Eram todos tão conhecidos quanto sem graça quando você chegou. Nem esperava por aquele sorriso, mas retribuí, especialmente com o coração. As tintas haviam chegado, enfim, para que eu pudesse pintar a aquarela da vida. A comida não tinha gosto. Deixava metade no prato para sair. E o mundo se fez mais feliz. A rua sorria para mim.
Estávamos juntos, sempre, desde o primeiro olhar.
Trinta e um alerta! Nos escondíamos no beco, rindo, acocorados. Você colocava a mão na minha boca para que eu não risse tão alto! Aí que dava vontade de rir mesmo. Jogos de queimado, sempre no mesmo lado, protegendo um ao outro. Cuidado!
Amarelinha… você pensa que eu não via quando eu abaixava para pegar a pedra e você, de soslaio, olhava minha calcinha. Bôbo…
Brincadeiras na piscina. Olha o tubarão!
Íamos crescendo com as brincadeiras. Pêra, uva maçã, jogo da verdade. Coração amadurecendo, batendo forte de emoção. Sim ou não? Verdade ou mentira?
Início das festinhas. A primeira música lenta. Sem jeito…
Enquanto os seios se formavam sua voz desafinava, tentando engrossar.
Novas descobertas em nosso mundo. Primeiro beijo…
Ficávamos na beira do mar, depois do frescobol, sentados na areia, olhando o horizonte. Corríamos, de repente, numa aposta. Eu quase sempre chegava primeiro. Mas você jogava melhor do que eu. Uma vez deixei você vencer, só para te ver feliz. Você sacou, eu sei.
Eu clareando os pelos dos braços, você reclamando do cheiro. Eu bronzeada, você, vermelho.
O mar…. Íamos longe, nadando. Eu sempre exagerada. Voltei apavorada naquele dia quando o vi parar. Estava com câimbra. Nossa, morri de medo, achei que ia se afogar. Driblando o medo, chamei para pegar tatuís na areia. Esquecíamos das horas, levando bronca quando chegava para almoçar às quatro da tarde.
Sua primeira prancha, meu orgulho! Sentada, virava o rosto quando caía. Nossa, foram muitos caldos! Mas você ficou bom. Sim, ficou o melhor. Então sempre que chegava na praia procurava entre os surfistas sua prancha amarela. Lá estava você me acenando…
Sinto saudades, você teve que partir. Sem celular nem internet, nossa última comunicação foi a despedida com lágrimas, sem saber quando nem onde nos veríamos novamente.
Foi triste. Virei atleta para contar as braçadas e não pensar em você, parte do meu caminho que jamais vou esquecer.
Obs: Imagem enviada pela autora
A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
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