Todos os dias caminhava até o café da esquina. O mesmo pedido, a mesma mesa, o mesmo olhar longe, onde o corpo jamais chegou.
O quadro exposto não chamava a atenção. Era cinzento, como seus dias. Nem mesmo quando a chuva borrou a árvore pintada em vermelho, pôde perceber a diferença no habitual caminho.
Lutava, dia após dia para não perder as lembranças de um passado distante, já que as recentes se perdiam a cada momento.
Queria revê-la. Tinha que encontrá-la. Era agora tudo o que queria. Sua busca final. E era-lhe urgente, antes que a doença apagasse as memórias mais distantes.
Queria dizer o que jamais havia dito, o que ficou engasgado por toda a sua vida.
E buscou seu nome em listas infinitas, seus endereços perdidos, deixados para trás….
Enfim, já quase na desistência de si mesmo, conseguiu encontrá-la. Se olharam profundamente, num encontro de almas que se reconhecem além de vidas.
Feliz, disse seu nome, em troca de um abraço, de um sorriso de surpresa e alegria ou de um beijo devido. Mas ela, acometida do mesmo mal, mas em estágio final e cruel, não lembrou do seu primeiro grande amor.
Obs: Imagem enviada pela autora : Artista: Édouart Manet (No Conservatório)
Baseado no filme Viver duas vezes.
A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
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