[email protected]
nmpensante.blogspot.com.br
O dia amanheceu nublado.
A tarde só trouxe mais carregadas nuvens de chuva para a cidade, e os arranha-céus pareciam perder-se em meio ao horizonte.
Lá, na creche, ela resolvia os problemas no escritório: empilhava as contas, atendia os telefonemas e digitava relatórios. Os olhos no relógio só queriam que a chuva não caísse antes que ela pudesse voltar para casa.
No pátio, as crianças todas brincavam em baixo das nuvens, e quando ela por fim saiu do escritório, o pequeno Davi veio correndo em sua direção, com as bochechas rosadas e a camiseta manchada:
“Tia Ana, Tia Ana. A nuvem não quer chover, ó!”. E apontava o dedinho para o céu. Ana sorriu.
“Não chove porque a gente não dançou!”
“E tem que dançá pra chovê?”
“Tem sim, faz assim ó”
Ana colocou as pastas de relatório de lado, abriu os braços e começou a meditar dando voltas no pátio:
“Chuva tá no céu. Chuva chove aqui! Chuva tá no céu. Chuva chove aqui! Chuva tá no céu. Chuva chove aqui!”
O pequeno Davi abriu os bracinhos e começou a dançar. Logo as crianças todas estavam entregues àquela meditação e não havia mais nenhuma barreira de idade imposta entre eles. Não havia mais contas, telefonemas ou relatórios. Só havia essa dança e essas crianças, que se entregavam à alegria de serem donas do mundo. Só havia as gotas de chuva molhando seus rostos e braços abertos.
E quem foi que disse que não pode haver magia?