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Ninguém duvida que estamos atravessando momentos difíceis. Aumentam as apreensões, e se desenha pela frente um período de turbulências, que vão colocar à prova a maturidade de nossa democracia.

Tanto mais, como cidadãos herdeiros de uma lição histórica, que ainda serve de advertência, precisamos estar atentos a possíveis manobras golpistas.  Não podemos repetir a experiência de 64, que levou para a ditadura, da qual saímos a duras penas depois de vinte anos, e dela ainda restam alguns resíduos tóxicos.

A advertência se parece com o alerta do piloto: “estamos atravessando uma área de turbulência”. E´ hora de apertar o cinto. E´ hora de balizar nosso procedimento com firmeza, na absoluta observância dos preceitos constitucionais, sem ceder a nenhuma tentação arbitrariedade..

Momentos como este têm seu lado positivo. Despertam para decisões importantes.  Sacodem letargias que acomodavam e ficavam travando soluções longamente esperadas.

Já tivemos alguns exemplos nesta semana. A mobilização dos caminhoneiros levou rapidamente à sanção da “Lei dos Caminhoneiros”, que estava engavetada há tempo.

O clamor do povo fez os presidentes da Câmara e do Senado desistirem de mais uma mordomia aos parlamentares.

Se não houvesse o alerta da crise, com certeza estas duas providências não teriam sido tomadas. Precisamos valorizar estes momentos de lucidez, para tomar outras decisões, de alcance muito maior. Como por exemplo a reforma política. Salta aos olhos, agora com muito mais nitidez, que é pela reforma política que o Brasil vai ajustar o formato jurídico que servirá de embasamento para  os cidadãos poderem participar das decisões nacionais de maneira viável e adequada.

E seja qual foi o desenho final que resultará dos debates e das decisões que serão finalmente tomadas, está muito claro que o ponto central da reforma política é a questão do financiamento das campanhas eleitorais.

Com tantos episódios, envolvendo grandes empresas, ficou evidenciado o vínculo da corrupção com as doações de empresas para financiar campanhas eleitorais.

Afastar o processo eleitoral do poder econômico é a providência mais sensata a ser tomada pelo Congresso Nacional, se quiser estar em sintonia com o clamor do povo que pede igualdade de condições financeiras para os candidatos, como caminho indispensável para uma prática política verdadeiramente democrática.

São todas questões que precisam ser debatidas, com serenidade de ânimo, e lucidez de espírito.

Tanto mais se requer que as turbulências momentâneas, pelas quais estamos passando, sejam enfrentadas com amor à pátria e com a responsabilidade dos cidadãos. 05.03.15

Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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