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Filmado ao longo da rota de 260 milhas que Alvin Straigt percorreu em 1994, indo de Laurens, Iowa, para Mr. Zion, Wisconsin, “História Real”, de David Lynch, conta as crônicas da odisséia de Alvin e das pessoas com as quais encontrou ao longo da travessia. O filme não é somente um retrato lírico da real viagem de um homem através do coração da América, mas uma apresentação da diversidade humana e como o bem-estar pode ser algo subjetivo.

Em Lc 3, 1-6, nós encontramos uma expressão extremamente curiosa e que nos parece longe de nossa vida cotidiana, mas que deve ser um exercício constante na vida do cristão: batismo de conversão para o perdão dos pecados. Para compreendê-la precisamos nos libertar de uma associação que nos foi criada durante muito tempo: a associação entre pecado e desobediência. Nós possuímos normas de convivência social, normas jurídicas, normas morais e normas religiosas. O descumprimento de uma norma nos leva automaticamente à ideia de pecado e, desta forma, criamos em nós uma sensação de culpa. A culpa nos exige uma penitência, um castigo e somente depois de nos penitenciar nos sentimos aliviados e voltamos ao cumprimento da norma. Neste circulo vicioso que pode nos levar, mais tarde, a uma nova desobediência não somente nos faz ser legalistas e infantis, mas também não nos leva a uma verdadeira conversão. O pecado não é o descumprimento de uma norma. Nós não podemos nos esquecer que Jesus descumpriu muitas normas existentes em seu mundo político, social e religioso. Um clássico exemplo é o guardar o sábado e Jesus questiona se o sábado foi feito para o homem ou o homem para o sábado. Jesus não segue a norma cegamente, mas pensa sobre ela. São Tomás de Aquino nos dá uma definição de pecado muito próxima da mensagem de Jesus Cristo: pecado é ferir o bem-estar humano (Summa contra gentilis, 3, 122). De acordo com esta definição, para constatar se estamos em pecado ou não é necessário um verdadeiro batismo de conversão, ou seja, um mergulho (baptizein) profundo em nossa realidade e um voltar-se (converter-se) para si próprio analisando o que estou sendo e como estou agindo. No mito de “Adão e Eva” narrado pelo Gênesis, o pecado não é a desobediência em comer o fruto da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, mas ele acontece depois, na conversa de Deus com o homem. Ao ser questionado por Deus, Adão responde que só comeu o fruto devido à mulher; a mulher, por sua vez, diz que foi seduzida pela serpente. Em outras palavras, cada um procura pensar em si de forma egoísta para escapar da suposta culpa, sendo que justamente este egoísmo é o pecado. Nele está a destruição do bem-estar do outro. Adão e Eva são incapazes de assumir sua responsabilidade frente a seu ato. Paulo nos adverte (Filipenses 1, 9) que nosso amor cresça sempre mais em todo conhecimento e experiência para discernirmos o que é melhor. O oposto do pecado, ou seja, a vida na Graça de Deus, é a contribuição para o bem-estar humano. Para isso, porém, necessitamos ser maduros e vivenciarmos a cada dia um batismo de conversão para o perdão dos pecados. Este perdão adquirimos a partir do momento que deixamos de ferir o bem-estar humano e passamos a contribuir com ele. Mas, para isso, é necessário discernimento, conhecimento e experiência, ou seja, reflexão crítica para saber o que hoje significa “bem-estar humano”.