Mauricio Soares 15 de janeiro de 2020

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Ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo

Costumava ficar melancólico com o fim do ano,
Sobretudo com a perda do amor,
Sentia falta e desolação,
Nada tinha sentido,
A falta era um desalento,
A ausência do amor era um nó na garganta que desacelerava o coração,
Não tinha ninguém para segurar a minha mão,
Maior abandonado,
Ao lado de muita gente,
Um menino que não tinha nada,
Pois, a falta era uma perda pessoal.

Mudei!
Envelheço agora com frontalidade. A vida para mim é um momento místico de intensidade espiritual junto às pessoas, e não mais por extensão de amizade. O vazio não é mais para mim a ausência de um nada, ele é a importância que dou a mim mesmo. Longos tempo, é tão repentino ser jovem. Uma existência inteira para se viver, e um pouco tempo ser aurora da vida, logo passa e vem o crepúsculo. Estou aqui!

Ano novo! Vida nova no envelhecer de uma juventude que em mim não passou, mas gerou no meu ser interior, uma eterna criação, que continua brincando no jardim do Éden diante de Deus, numa intensidade interior, que desvela o meu ser de amor.
Mudar de ano não pode ser folia e diversão, uma dispersão que me descentra de mim mesmo, levando-me a depender dos outros para ser feliz; felicidade é uma construção interior, nunca exterior. Ano novo não é mudança de calendário, uma virada de página, como algo que já terminado em que tudo acabou. Ano novo é transformação interior, uma inspiração interna, onde estamos a criar e recriar a vida em sua plenitude de ser, no gestar de um ser humano novo em mim.

É momento aprendente onde estamos a cuidar da nossa autoestima. E no amor a si mesmo não pode haver espaço para o ego ensimesmado, cheio de soberba. Autoestima é desapego de si, é momento existencial onde experimentamos as qualidades de uma verdadeira mudança. As autênticas e originárias mudanças não são as passagens do calendário, onde vivemos na agressividade do real, sem sentido ou significado, que nos ofusca a realidade.
O mundo que construímos para viver, que chamamos de sociedade moderna, tudo conspira para que a nossa atenção se volte pra a vida do consumo, do fluido, do líquido do efêmero e passageiro, e dizemos ser um mundo novo. Sim, um novo em que tudo se torna velho como as folhas do calendário. No entanto tudo isso é só um jeito de sobrevivência da nossa condição animal.

Humanidade é um projeto, algo a ser construída, que transforma e traz mudanças, pois mudança é melhorar, criar um mundo novo onde possamos nos humanizar. Humanidade é um projeto para depois da sobrevivência, é se colocar no para lá: simples comer, vestir, morar, procriar… quando me volto a pensar sobre festa de final de ano, me vejo devotado a um projeto de humanidade, pois festa é a capacidade humana de sonhar juntos, no estar juntos no desejo de mudanças, que nos tire da simples presença, contingência de ser bicho e nos lança no brio da compreensão criativa , onde o imaginário da mudança nos chama na passagem do ano, onde só viramos o calendário, e passemos a olhamos o ano como desejo de nova humanidade.

A complexidade humana é muito forte. Hora somos dóceis e hora somos amargos, somos sábios e dementes, em nós habita a ternura e a arrogância, o desejo de amor e o desamor… por isso temo que nos interpelar-interpretar no horizonte da história, vendo na passagem do tempo uma nova cultura geradora de uma nova humanidade.
Viver movido a convicções nos leva a uma emotividade primitiva e espiritualista de culto ao ego do poder, que gera conservadorismo nefasto, que nos leva a humanidade ao seu submundo de instintos primitivos, onde o ódio é cultivado para acalmar as nossas frustrações de poder controlar as pessoas. Por outro lado, criamos a tolerância e o respeito como disciplina para frear o desamor humano pela humanidade. O maior desafio humano é como emancipar o ser humano dos seus instintos egoístas, impedindo que o ódio seja uma arma contra a diversidade em suas múltiplas faces.

Humanidade é alteridade, sendo o diverso de si em sua outridade no mundo. A entrada de um novo ano, é a expectativa do ser humano de encontrar a sua humanidade, que se encontra nas mudanças. Ano novo é o projete de uma nova humanidade, onde o mundo de justiça social é uma realidade, enquanto construção pacífica e inteligente de um sonho bom para todos e todas. Para isso temos que nos voltar para compaixão, numa autêntica mística de amor a vida. Para isso temos que nos afastar de todo tipo de falsas espiritualidade, que nos são apresentadas como piedosas, arrogantes e moralistas.

É pela mística da vida interior que somos chamados para nos voltar para toda a coletividade, na interação com a totalidade que é Deus. Se assim fizermos, geramos o ano novo, ano da graça, que é o ano da partilha, onde a humanidade reconciliada com sua humanidade se encontra na graça de Deus. É na partilha que contemplamos as maravilhas que a força da humanidade pode realizar. Aí veremos que não iremos sucumbir pela força atomizada do ódio. Usemos a compaixão e estaremos mostrando a face de Deus, e veremos a força da humanidade, diante do bicho que durante toda a história procuramos educar.

Um bom ano novo para todos e todas,
Muita coragem para amarem mais as pessoas,
Começando talvez por nós mesmos,
Para que possamos ser mais amáveis também,
O desafio humano é amar,
Esse desafio eu me esforço a viver,
Ano novo,
É a proclamação do ano da graça de nosso Senhor Jesus Cristo,
A vinda de um mundo novo,
Libertação dos oprimidos e perdão de todas as dívidas,
É o início de uma nova humanidade…

Maurício Soares
O tempo nos mostra os verdadeiros amores,
Os verdadeiros amigos,
As verdades de quem realmente somos.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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