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Meus queridos amigos

A mulher insistia em dizer que os homens não suportariam a dor do parto. Como explicar-lhe que todo trabalho participa, misteriosamente, da ânsia e da angústia, da esperança e da ventura da gestação?

Inspirado pelo Espírito de Deus, Sao Paulo diz em sua carta aos romanos: “Sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores do parto, até o presente. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos interiormente, suspirando pela redenção de nosso corpo, pois fomos salvos na esperança, e ver o que se espera, não é esperar”.

Sao Paulo tem razão. Esperar é ter certeza antecipada daquilo que não se vê. Quando o que esperamos se realiza, a esperança, como esperança some, e se transforma em feliz realidade. Em nossos tempos de tanta injustiça na terra, em nossos tempos em que, sem exagero, segundo dados oficiais das Nações Unidas, mais de 2/3 da humanidade estão em condição sub-humana, de miséria e de fome, temos a esperança, a bela e firme esperança de ajudar a criar um mundo mais justo e mais humano.

Os jovens de hoje, com a ajuda divina, levarão mais longe nossa esperança. E as crianças de hoje, provavelmente e sempre com a ajuda divina, já não terão mais esperança de um mundo mais responsável, um mundo de menos ódio, menos violência e muito mais amor. Para nós e para os jovens de hoje ainda será esperança. Para as crianças de hoje, a esperança se transformará em feliz realidade.

Quando falo no estrangeiro, e alguém diz que este sonho de um mundo mais justo e mais humano é utopia, costumo citar uma canção nossa, brasileira, que diz: “Quando alguém sonha sozinho, é apenas sonho… Quando sonhamos juntos, é o começo da realidade…”

A realidade, no caso, já está começando? Por enquanto, são as dores do parto. “Sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores do parto, até o presente”. Quem já teve filho, diz que assim que a criança nasce, a alegria é tão grande, o alívio é tão total, que as dores do parto são imediatamente esquecidas. São recordadas dentro de um prazer intenso e de uma felicidade sem limites.

Até nem sei se a fase em que vivemos — de esperança, de gestação de um mundo novo, de dores de parto — não é, a seu modo, uma fase mais apaixonante do que a fase futura de quem vai passar do sonho, da esperança, a realidade… Terça-feira, 6.1.1981

Obs: *Mais uma das crônicas escritas por Dom Helder Camara para o seu programa de rádio UM OLHAR SOBRE A CIDADE, exibido na rádio Olinda às 06h55 de 01 de abril de 1974 a 22 de abril e 1983. Está crônica está publicada no livro “Meus Queridos Amigos”, que reúne 200, das centenas de crônicas lidas por Dom Helder ao longo dos nove anos de duração do programa.

 Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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