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“Não é mais necessário pensar! Cientistas inventam uma máquina que realiza esse ato para o Homem”. No dia em que os jornais de todo o mundo estamparem esta manchete, talvez terei a certeza de – se ainda estiver vivo – morrer feliz. E ainda vou confirmar uma velha e teimosa suspeita: Deus não existe mesmo!

Não que eu tenha algo contra a ciência. Pelo contrário, ela é fundamental para o desenvolvimento humano. Mas, convenhamos, diante dos rumos tomados por sua exploração louca e interesseira, indago se há um futuro brilhante para a humanidade.

Sei que você está estranhando. Uma crônica que a princípio trata de desenvolvimento científico. Mas, é isso mesmo. Ciência é uma arte. E, talvez, uma das mais belas dentre os dotes do ser humano. E as coisas interligam-se: literatura e ciência, inclusive. Basta olharmos a história humana. E não é só na literatura que se observa tal fenômeno, todas as manifestações artísticas têm, cada uma ao seu modo, um quê de ciência no seu íntimo.

E o que me leva a desejar tal descoberta – uma máquina que pense para o homem – é justamente o fato de ter nascido com esta difícil e mal paga sina de pensar e este desejo incontido de escrever. Escrever para quem? Quem ainda dedica-se à leitura nestes tempos de bytes e reality shows? Em tempos nos quais máquinas entretêm mais do que livros. Daí a escolha do título desta crônica. Sim, pois essa é, ainda, uma mensagem para seres humanos e não para máquinas.

Digo isso tendo em vista também o atual processo de aniquilamento das manifestações culturais de quase todos os povos do mundo. Se continuar, o que restará? Máquinas! Pois, para mim, o que provoca o distanciamento entre as pessoas é a desintegração de suas culturas. Cultura é, antes de tudo, comunhão. Se não concorda, olhe ao seu redor ou busque nos livros antigos, ou ainda nas memórias de algum ancião que você conheça e que vivia dias de mais comunhão.

Então, já que estamos nos comportando como máquinas, torço para que eles inventem logo a tal versão capaz de pensar por si só. Talvez assim, além de somar interlocutores atentos aos meus textos, ganho ainda como brinde a possibilidade de descanso definitivo deste surreal e dolorido ofício de pensar.

Obs: O autor é Jornalista e Gestor Cultural.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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