Ina Melo 1 de dezembro de 2019

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Louise escolheu o quase inverno parisiense para reencontrar um velho amor que aconteceu  em plena efervescência da revolta estudantil de 1968!  Ela uma estudante rebelde, vivendo na contra-mão do mundo, se apaixonou por um professor de filosofia, de cabelos encaracolados qual um querubim, um tipo “hippie burguês”. O primeiro encontro aconteceu no “Café Montmattre”,  ambiente propício aos pintores e escritores de vanguarda daquela época, quando  Juiliette Greco era a musa do Existencialismo e Sartre e Simone de Beauvoir, influênciavam os jovens estudantes a lutar por um mundo melhor.  Nesse Café,  ela e Jean Pierre, entre uma e outra taça de vinho e um cigarro, riam e faziam planos para um futuro que nunca aconteceu! O tempo passava e o amor seguia o ritmo das corredeiras.O mundo era o palco dos encontros sanzonais. Os anos mudaram o rumo das suas vidas, mas nunca interferiu no amor!  Ninguém era dono de ninguém. Não plantaram árvores. Não tiveram filhos.  Estes, foram os livros escritos e espalhados mundo afora. Agora, perto do entardecer da vida, cansados dos amores fugidios, depois de algumas décadas de perambulacão,  decidiram se encontrar no mesmo café dos “anos loucos”, nome roubado dos vanguardistas da “Belle époque”. Louise resolveu chegar antes da hora marcada. Fez reserva no mesmo hotel do passado. Seria temeroso descer a colina debaixo da neve. O inverno se antecipara,  causando surpresas e transtornos. O tempo nao lhe causou danos. Não era a mesma jovem de vinte anos, mas ainda estava firme e inteira. Amadurecer com paz de espírito, saúde e sem problemas financeiros era o maior presente que Deus lhe ofertara. Amava os livros, a música e os animais. Esses nunca lhe faltaram. Amores foram sempre como pirilampos, lindos e coloridos, mas de vida breve. Jean Pierre seguira o mesmo caminho. Enquanto o esperava, revia a velha caderneta amarelecida pelo tempo, tendo à  frente uma taça de “armagnhac”, para esquentar o corpo e o coração. Hoje, em pleno século XXI, pouca coisa mudara. A Praça de Tertre, apesar da neve fina que teimava em cair, continuava repleta de turistas e artistas. O Café fervilhava com um mundo colorido de jovens usando jeans rasgados, como se fossem mendigos. Não!  Eram apenas escravos da moda! Louise sentada numa mesa de canto, com seus cabelos grisalhos e vestida sobriamente, destoava do alegre ambiente! Foi quando ouviu ao piano uma canção que marcara sempre a sua vida nômade e inconsequente. “Je ne regrette rien”. Ao levantar os olhos,  à sua frente estava um quase velho senhor, usando uma boina azul marinho e jeans amarrotados. A mesma figura irreverente, só com cabelos escassos brancos, presos num rabo de cavalo. O abraço foi longo, seguido de um beijo interminável. De repente, acordaram com as palmas e os gritos do público jovem ao seu redor. Com as faces vermelhas se curvaram agradecendo. Daí para frente foi um revival de emoções. Falaram e lembraram de todas as loucuras que, só os que sabem amar, são capazes de fazer. Brindaram à vida com Cidra e crepes. Quando acordaram do enlevo o Café estava vazio. Cambaleantes, os velhos jovens casal sairam caminhando para o Hotel do alto da colina. Lá dormiram abraçados,  só acordando  com o sol esmaecido de inverno sobre os seus corpos. Nov/019

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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