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Na virada de ano, ao som de fogos de artifício, de choros e abraçoscalorosos, repensamos nossa vida. Quando fazemos 30 anos de idade também, mas de uma forma muito mais angustiante. Tudo bem, tem gente que não passa por isso. Tem gente que acha que é o Peter Pan e tem gente que amadurece muito cedo. A questão é que, quando chegamos às três décadas, começamos a fazer um balanço existencial da nossa história no planeta Terra. Estou exagerando? Acho que não.

Começamos a nos fazer perguntas das mais diferentes. Se estou casado(a), essa é a pessoa com quem sonhei envelhecer? Trabalho onde gosto mas sou mal remunerado? Ganho bem, mas odeio meu trabalho? Me arrependi de ainda não ter filhos ou tenho filhos e estou arrependido? Devo curtir a vida sem pensar no amanhã ou devo ser comedido investindo numa vida mais “estável” possível? Fiz bons amigos ou nunca fui uma boa companhia para eles? Sou o que gostaria de ser ou o que minha família gostaria que eu fosse?

Psicologicamente falando, Freud nos ensina que temos uma certa tendência inconsciente de repetir os encontros e desencontros existenciais de nossa família (nossos pais). Mas tendência não é determinação, isto é, podemos tentar fazer diferente dos nossos genitores, não são todos os que conseguem ou querem, pois a família é composta de uma teia de relações complexas demais onde oscilam sentimentos de amor, ódio e tantos outros.

O historiador Leandro Karnal diz que o ser humano sente que não está na época “certa” da sua história. Quando é criança, deseja ser mais velho para fazer coisas limitadas a sua idade. Quando é jovem, quer ser adulto e ter dinheiro e, quando tem dinheiro e se é adulto, não tem a disposição e tempo que tinha quando jovem. Então, sente que deveria voltar alguns anos e diz “bom mesmo era quando não tinha tanta responsabilidade”; “Bom mesmo é ser criança”.

Para os trintões como eu, acho que realmente refletir sobre nossa trajetória é importante. Mas devemos tomar cuidado de não pensarmos sempre que, se fizéssemos da forma contrária a que escolhemos fazer, seria a melhor escolha e não estaríamos arrependidos. “Se eu tivesse casado com o fulano estaria feliz hoje”, Se eu não viajasse naquela época não perderia o emprego dos sonhos” “Seu eu desse prioridade naquele momento para minha família, hoje eles não estariam sem falar comigo” . De verdade, quem garante que daria tudo certo?

Erramos muito? Sim! Devemos optar por melhorar a nossa vida e a do próximo? Sim. Mas não acredito que nos martirizar o tempo todo pelos escorregões que demos vá ajudar alguma coisa. Devemos entender que foi o que conseguimos fazer e escolher naquele momento. O tempo cronológico não volta, mas pode ser ressignificado dentro de nós.

Devemos desconfiar dessa fantasia pós moderna do gozo eterno, de conseguir ser o melhor em todas as áreas da vida, e se não deu tudo certo, é porque você é um fracassado. Esse é um dos motivos dessa geração ter tanta gente deprimida. Estão tentando alcançar um objetivo impossível sem perceber a beleza de cada época da idade presente.

Aos meus amigos que estão na fase 3.0: não sei se deveriam estar onde estão, mas onde estão, empresto lhes Fernando Pessoa: “Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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