Rômulo Vieira 1 de novembro de 2019

Desceu do céu um anjo, o Anjo bom da Bahia e subiu uma santa, a Santa Dulce dos Pobres, nascida Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes  em Salvador,  no dia 26 de maio de 1914  tendo retornado a casa do pai no dia 13 de março de 1992, a partir de Salvador.

Não sei da veracidade do fato, mas ouvi que uma certa vez alguém se dirigiu  a este anjo que estava cuidando de uma pessoa  repleta de feridas e lhe disse: “Eu não faria este serviço por dinheiro nenhum” ao que ela respondeu: “Por dinheiro, eu também não faria”. Só esta grandiosidade de alma já nos mostra a santidade de uma pessoa que em vida, foi capaz de viver assim, despojada das misérias da vida.

Mas a Irmã Dulce, agora nossa Santa Dulce dos Pobres, nos deixou muito mais de sua proximidade ao Divino, se não vejamos:

Quanto a caridade

“O importante é fazer a caridade, não falar de caridade. Compreender o trabalho em favor dos necessitados como missão escolhida por Deus”.

“Se Deus viesse à nossa porta, como seria recebido? Aquele que bate à nossa porta, em busca de conforto para a sua dor, para o seu sofrimento, é outro Cristo que nos procura”.

Quanto a essência humana.

“Sempre que puder, fale de amor e com amor para alguém. Faz bem aos ouvidos de quem ouve e à alma de que fala”.

No coração de cada homem, por mais violento que seja, há sempre uma semente de amor prestes a brotar”.

Quanto à fé

“O amor supera todos os obstáculos, todos os sacrifícios, Por mais que fizermos, tudo é pouco diante do que Deus faz por nós”.

“No amor e na fé encontraremos as forças necessárias para nossa missão”.

A questão Social

“O que fazer para mudar o mundo? Amar. O amor pode, sim, vencer o egoísmo”.

“A minha política é a do amor ao próximo”.

Como se pode perceber seria quase interminável apresentar a grandeza da alma desta irmã, que viveu o que pregava: humildade, amor, disponibilidade.  Tão sábia e tão abençoada.

Às vezes ficamos pensando o que torna uma pessoa santa? É notório que a Igreja Católica adota todo um processo para a canonização, contudo também às vezes ouvimos aqui na terra algumas expressões como “fulano” ou “fulana” é um verdadeiro santo ou verdadeira santa, devido ao seu desprendimento para ajudar a outrem.

Realmente já vimos algumas destas pessoas, que se dedicam completamente às causas de outros filhos de Deus, aqueles que sofrem, que são injustiçados, que passam fome, que são perseguidos, que choram de dor. Enfim aqueles que precisam da mão de Deus para socorrê-los.

Irmã Dulce já dissera: “Miséria é a falta de amor entre os homens”. Ou ainda: “Habitue-se a ouvir a voz do seu coração. É através dele que Deus fala conosco e nos dá a força que necessitamos para seguirmos em frente, vencendo os obstáculos que surgem na nossa estrada”.

Talvez alguns fiquem a se perguntar: onde Irmã Dulce aprendeu tanto sobre a caridade, sobre o amor, sobre o servir? Será que foi no convento? Não, me desculpem a ousadia, ela não aprendeu, ela era caridade, amor e serviço aos necessitados.

Provavelmente ela reafirmou e engrandeceu sua fé nos ensinamentos que recebeu na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus em São Cristovão, cidade de Sergipe, mas os seus dons lhe concedidos pelo altíssimo, já se manifestara desde muito cedo em sua vida.

Quando ainda menina, fizera da casa da família um centro de atendimento às pessoas necessitadas, a famosa “Portaria de São Francisco”. Por esta porta adentraram muitos doentes que foram acolhidos pela Maria Rita.

Dentre as diversas obras de caridade e de assistência aos pobres e necessitados implementadas pela Irmã Dulce acredito que uma deve ser destacada: o Hospital Santo Antônio, que devido à coragem e determinação e muito amor deste anjo, fora construído a partir de um galinheiro do Convento Santo Antônio e na atualidade atende mais de cinco mil pessoas por dia. Alguma dúvida da santidade desta Irmã já em vida?

Foi uma das mais respeitadas ativistas humanitárias do século XX. E por sua vida dedicada aos mais necessitados, levando aos mesmos caridade, amor e esperança chegou a ser indicada ao Prêmio Nobel da Paz nos idos de 1988. Posteriormente, no ano de 2012, em uma pesquisa que fora realizada pelo Sistema Brasileiro de Televisão-SBT, foi eleita como um dos 12 maiores brasileiros de todos os tempos.

Tendo em vista que sempre fui um grande admirador do Papa João Paulo II, tendo escrito inclusive um texto intitulado: Um grande papa para o mundo, sua canonização me proporcionou muita alegria. E por que falar de São João Paulo neste momento? É que dois encontros dele na terra muito me emocionaram, um ainda como Padre Karol Wojtyla, quando se encontrou com o Padre Pio de Pietrelcina. Este lhe dissera: “Vás a ser Papa.”  Sim Padre Pio previu que o Padre Karol Wojtyla seria papa, como também tinha previsto o papado de Paulo VI.

O outro encontro foi, do já então Papa João Paulo II, com a nossa querida irmã Dulce.

O Papa João Paulo II teria visto uma santa em Irmã Dulce quando de sua visita em 1980 e dissera a ela “Continue, irmã Dulce, continue”? Não sabemos, mas o mais fantástico, o mais emocionante, para nós simples mortais, em minha modesta opinião, é que três santos se encontraram em nosso tempo: Santo Padre Pio, São João Paulo II e Santa Dulce dos Pobres.

Infelizmente não conheci pessoalmente a Santa Dulce dos Pobres, mas o São João Paulo II eu conheci, em Belo Horizonte, na década de 80, em sua primeira visita ao Brasil, quando eu realizava meus estudos de mestrado naquela capital.

Seu carisma era tão grande que nos sentíamos abraçados por ele, mesmo ele passando em cima de um carro em desfile pelas avenidas de Belo Horizonte.

Santa Dulce dos Pobres também irradiava energia positiva e muito amor, mesmo através da televisão. Que irmã admirável, sempre nos emocionava com suas atitudes, palavras e a sua própria vida.

A relação do Papa João Paulo II com a irmã Dulce foi sempre muito marcante. No ano de 2000 ele a distinguiu com o título de Serva de Deus. Ele também foi responsável pela bênção e extrema unção dela, em sua segunda visita ao Brasil em1991.

Iniciando-se a beatificação e canonização, irmã Dulce foi declarada, pela Congregação para as Causas dos Santos do Vaticano, em 21 de Janeiro de 2000, como venerável.

Dando continuidade ao processo para canonização da Irmã Dulce, o Papa Bento XVI, no ano de 2009, aprovou o reconhecimento de suas virtudes heróicas.

Posteriormente, como último estágio do processo de beatificação, em 09 de Junho de 2010 o corpo da Irmã Dulce foi exumado, velado e supultado novamente.   O decreto de beatificação da Irmã Dulce data de 10 de dezembro de 2010, sendo a mesma beatificada em Salvador no dia 22 de Maio de 2011.

Os dois milagres que foram reconhecidos para a canonização da Irmã Dulce são: a recuperação de uma mulher, que havia sido desenganada pelos médicos, após ser acometida por uma hemorragia pós o parto que persistira por 18 horas; e a cura de um cego, que tinha sido acometido por glaucoma. Assim no dia primeiro de julho de 2019 a Santa Sé anunciou a data da canonização da Irmã Dulce, que recebera o título canônico de Santa Dulce dos Pobres: 13 de outubro de 2019.

Desse modo o Brasil tem hoje uma santa genuinamente brasileira, a quem rogamos que continue intercedendo pelos necessitados, doentes, desamparados, solitários e por todos nós pecadores.

Santa Dulce dos Pobres interceda por todos nós e pelo Brasil, inspirai-nos para “Amar e Servir”.  “As pessoas que espalham amor, não têm tempo nem disposição para jogar pedras”.

Obs: O autor, Prof. Dr. Rômulo José Vieira é Acadêmico da Academia de Ciências do Piauí; Acadêmico da Academia de Medicina Veterinária do Piauí; Acadêmico correspondente da Academia de Medicina Veterinária do Ceará; Acadêmico correspondente da Academia Pernambucana de Medicina Veterinária.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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