1 de novembro de 2019
- Alguém um dia, me disse: “passei toda a semana pensando na morte”. Uma prima, ao ver que a geração anterior já se fora, disse apavorada: “entrei na fila de abate”. E a criança, diante do caixão da vó, falou: “por que não inventam uma vacina pra não morrer”?
- A tradição de celebrar os mortos nasceu com os celtas que acreditavam na vida após a morte. Influenciados por isso, os católicos passaram a rezar pelas almas, acreditando que elas necessitam de orações, no seu processo de purificação no Purgatório
- No Brasil, Finados é uma data triste. Visitar o túmulotornou-se uma forma de manifestar saudade, respeito e carinho por um ente querido. Já o mexicano faz festa e banquete, pois, acredita que nesse dia, as almas voltam para uma visita aos familiares e amigos.
- Há pessoas que preferem receber as manifestações de carinho e reconhecimento, ainda vivos. Desconfiam que homenagens depois de mortos parece ser um complexo de culpa, a catequese de terror e, com certeza, o paraíso para um mercado do afeto.
- A morte tem sido um trauma para o ser humano. Até, no último suspiro, tenta sobreviver, porque a morte aparece como o ponto final da existência. Talvez, muita gente que não foi assim tão virtuosa, quando idosa, por medo da morte, se torna religiosa.
- A imortalidade é um sonho humano: “se a morte for descanso, prefiro viver cansado”. O cristianismo atraiu os pagãos com a doutrina da ressurreição. Muitas religiões tentam consolar explicando que a vida se refaz, sempre se reencarnando, de outra forma.
- Vida e morte ilustram a dialética: a eterna unidade e luta dos contrários. Vida é o contrário de morte e a morte, a negação da vida. O ser vivo se renova na luta contra a morte. O segredo de viver é não matar sonhos, ter uma causa, um futuro pela frente.
- A árvore morre, mas renasce nas sementes. A energia se conserva, transformada em novas formas. A morte vence o indivíduo, mas se perpetua na sua espécie. A natureza e a vida continuamente mudam, mas ressurgem do velho e são sempre novas.
- É inútil não encarar a morte. A receita de viver, diz a anciã de 100 anos, é só não morrer. Quem tenta sorvê-la, ao máximo, morre; e quem quer guardá-la, também morre. Já teve que para gozar logo da eternidade, se atirou às feras como martírio.
- de Moraes alerta numa canção: “você que não gosta de gostar, o que que há, diz pra mim o que que há; você vai ver um dia, em que fria você vai entrar; por cima uma laje, embaixo a escuridão; é fogo, irmão, é fogo irmão! ” Sem sentido, alguns se cansam e preferem tirar a própria vida.
- O poeta se encanta: “Já tive medo da morte, como o rio que tem medo de chegar no oceano por achar que vai se perder. Depois que descobri que vou me integrar na imensidão, só temo ser inútil enquanto sou rio”. O ateu é prático: “Se estou vivo a morte não está; quando ela chegar eu é que já não estou”.
- A preocupação excessiva em esticar a vida e o medo da morte, acabam apressando sua chegada. O desafio é crer na estranha e contraditória economia, onde quem quer manter sua vida, vai perdê-la e quem perde sua vida para que outros tenham vida, ganha a vida.
- Assim, a vida ou a morte vegetativa não têm valor absoluto. Muitas vezes, traz a dimensão da dignidade: “é melhor morrer do que perder a vida”, dizia Frei Tito. Mas, sobretudo, a dimensão da entrega amorosa: “não há prova maior de amor que doar a vida pelo irmão”02 de novembro de 2019
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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