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Enquanto fazia anotações durante uma palestra de alguém
nunca havia direcionado a atenção para aquele ato diário e tão trivial que era de fazer anotações em pequenos blocos.
A caneta seguia a linha suavemente na maciez aveludada da tinta em contato com o papel. Os movimentos dos dedos, ao fixar a ponta da caneta no papel, pareciam acompanhar a cadência produzida pelas formas arredondadas, sinuosas, piramidais das letras no andamento da escrita. Essa acomodação tinha tudo a ver com o nome do objeto: caneta esferográfica. Os dedos transformavam-se num tipo de pinça criando uma cava na qual se apoiava a caneta para assim, em posição de deslizar e deslizar sobre o papel, desenhar as palavras que se encaixavam umas às outras, naquela brincadeira despretensiosa, ao mesmo tempo instigante, de fazer uma palavra se encaixar na outra que, aos poucos, vai mostrando o sentido de todas as palavras que foram unidas como se em cada uma existisse um imã a atrair a próxima …e a próxima…e a próxima..Palavras são solitárias mesmo as compostas. Sozinhas elas existem mas juntas criam rumo. Sem marcas de calos nos dedos as palavras podem ficar também imperceptíveis. Quantas palavras já havia escrito daquele modo, daquela forma? Dezenas, centenas, milhares..quais junções teriam sido as mais importantes? Aquelas que usara na redação do vestibular? Ou aquelas que ainda virão a ser? Antes, pensava que a morada das palavras era o dicionário. Palavras são como uma imensa e densa floresta. Às vezes exige-se ter muita coragem para adentra-las, abrir passagem até chegar a uma clareira e sentir o alívio por encontrar um caminho. Nem sempre é de primeira vez. Mas quando é encontrado pode até mesmo levar ao paraíso.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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