Começou com o telefonema de Cristiane, eu já a caminho do aeroporto. Colocasse um casaco, a aeronave esfriava durante o vôo. Obedeci. No sanitário, tirei da sacola de mão uma camisa de  manga comprida, que levava para ser lavada. Foi a forma de enrolar o frio. Por aí tudo bem. Já sentado, no corredor, o dono da cadeira vizinha pediu para passar. Não saiu da minha frente, impossibilitando minha saída. Ou o senhor vai para a direita, ou para a esquerda, agora abro espaço para poder me levantar. Pedi. Ele saiu. Logo, logo, estava dormindo, no que facilitou meu silêncio. Não estava inspirado para conversa alguma. Não senti frio, nem tampouco calor.

O vôo saiu com um senhor atraso. Fiquei a espera do comissário de bordo ressaltar o respeito da companhia para o horário da saída. Nada. Nenhuma palavra. Depois de quarenta minutos de atraso, não seria possível fazer o auto elogio. Vôo tranquilo. Um olhar aqui e ali lá fora na busca de luzes a assinalar, lá embaixo, um aglomerado humano que, durante a noite, a nossa  curiosidade não consegue distinguir. Só na chegada, a ponte que liga Aracaju a Barra dos Coqueiros denuncia a posição de extrema proximidade.

Na chegada, Helder me esperando, o veículo parando na faixa de pedestres. O guarda de trânsito dá um grito de alerta. Eu entro rápido no veículo, que não demora trinta quinze segundos no local. Saímos. A alegria do retorno. O guarda estava a serviço. Anotou a placa. Alguns dias depois a correspondência chega com o anúncio da multa. Pela parada em cima da faixa. Não reclamo. Aconselho a pagar. Não acho que valha a pena contestar. É a palavra do guarda, com a fé de ofício, contra a do motorista. Depois, pelo valor da multa, que a gente ainda não sabe, fica mais caro contestar, esperar uma decisão administrativa depois de tantos meses, destacando a falta de argumento para elidir a infração. Melhor pagar logo. Após, fui cotejar o Código de Trânsito. Implacável a pesquisa: o fato gera multa.

A lição foi lenta, dentro das lições do dia a dia. Uma verdade, contudo, me deixou de orelha vermelha. De todas as viagens, seja Aracaju-Recife, seja Recife-Aracaju, foi a mais demorada. Como um cometa, deixou rastro no bolso e nos pontos da carteira de motorista (15 de fevereiro de 2019).

Obs: Publicado no Diario de Pernambuco
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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