Mauricio Soares 15 de novembro de 2019

Vivemos na esperança da plenitude da vida, não como algo que vai chegar, mas como todo na totalidade, em que a existência está para o seu voltar-se para-Deus em-Deus.

Vida é o sabor de sentir a plenitude na finitude que habita em mim, sou sabor da eternidade, o manjar que derramado sobre a terra, depois de colhido é triturado uma delícia de pão, nutridor do eterno, que vive inteiro no ser-sendo do meu existir.

Sou pão em seu sabor, que alenta toda nossa travessia. Sou o sabor de uma nova vida, de um mundo novo que se anuncia, que se potencializa em glória do amor de cada dia.

Finados não é o fim, não existe fim, mas finalidade transcendente de um sabor imanente, de ser pertença eterno num estar voltado para-Deus. Sabor momento pleno da vida que é vivida em-Deus e para-Deus. O que é chamado de morte é a metamorfose da vida em sua plenitude de sabor de ser-sendo no mistério de Deus. Sou sabor da finalidade numa constante realização, do sabor do projeto que é a cada instante vivificado em Deus no ser saboreado. Sou sabor porque sou projeto da plenitude, saboreado na transformação, em que a vida é ressureição.

Finados não é o fim, mas a finalidade, o projeto de plenitude de todo ser em seu existir. O saborear da vida é ser a delícia de vida plena. Não existe o pós-morte ou vida depois da morte, existe o sabor da eternidade em plena vida ressuscitada. Assim não existe morte, mas vida, o que tu chamas depois da morte, é plenitude de vida. Desde que o mundo foi criado, a morte foi destruída; o que existe é o ser e não o não ser, “depois da morte”, há plena vida, e não pós morte ou depois da morte. Existir é vida plena em Deus. E em Deus não há morte, mas vida em plenitude. Nosso ser mundano é viver essa compreensão que a nossa finitude é projeto de plenitude no sabor do eterno que se manifesta no saborear da vida em sua mundanidade, como grande explosão cósmica no para-Deus e em-Deus.

Nossa transcendência não é para morte, transcendência é vida em plenitude na totalidade de Deus, em nosso todo de ser: corpo, alma e espírito. Unidade inseparável que desvela todo do nosso existir. Sou sabor, da metamorfose da vida, saboreado no desejo de Deus, sendo projeto de corporeidade gloriosa, ressuscitada a partir das fragilidades de uma finitude toda prenhe de Deus. Sou sabor do projeto glorioso manifesto em toda carne pelo Santo Espírito de Deus.

Ser sabor

Ser contemplado em nossa corporeidade,
Não sou uma alma apenas, mas um todo saboreado em Deus.
Somos contemplação por inteiro, e não apenas em parte.
Não se salva alma, se salva o ser humano em sua inteireza corpórea.
Sendo sabor divino em sua interação sinérgica, na pertença à totalidade de Deus,
Ser, sendo pneumático em uma finitude que nos chama a plenitude de Deus.
A vida é o maná do céu, um alimento divino é o viver, que tem mil sabores,
que se ajusta ao jeito de cada um.
Sou a transformação da comida em sabores, que alimenta cada um em seu deleite de Deus,
O paladar humano não é indiferente ao desejo de Deus, é saboreado, no saborear-se de Deus por todas as suas criaturas, pois Ele viu que tudo era bom. Deus é sabor, sua palavra é saboridade para os seus. O anjo disse em apocalipse com a palavra de Deus; toma-o e come-o, se referindo ao livro sagrado.

Nosso Senhor nos fala do sabor, quando fala do sal, da terra, se o sal perde o seu sabor, com que vamos salgar? A vida é saboreada por Deus, como podemos temperar se o sal perde o seu sabor? Viver é ser sabor e ser saboreado pelo outro em sua outridade de mim mesmo como outro. Ser vida é ser sabor para si e para os outros.
O sabor não é uma coisa que temos externamente, é a nossa vivência do amor de Deus com os outros, a saboridade é interação com a corporeidade do outro, que em seu ser traz o sabor da eternidade de viver.

Nossa expectativa humana em nossa finitude é ser para Deus vidas saborosas, para o outro que como eu dividimos e partilhamos, o mesmo mundo circundante. Distante do sabor eterno desvelado em nossa corporeidade nada somos, somos em nossa finitude o sabor de Deus no mundo. Trazemos em nossos corpos a delícia de ser-sendo, é a partir da nossa vida vivida no mundo, que podemos ser sabor, sem repetir o sabor, essa é a magia da diversidade, em cada vida há um sabor na multiplicidade dos sabores.

Viver Deus é degustar e saborear o desvelar de Deus no mundo da vida, em cada criatura viva.
Uma só coisa peço ao Senhor todos os dias da minha vida, diz o salmo; ardentemente o desejar, e habitar em sua casa todos os dias da minha vida, para saborear o seu encanto, tomando uma bela taça de vinho. Saborear é adentrar no mistério sem sair da sua mundanidade, lugar do deguste de Deus em nossa existência. Mas, para o sabor é necessário o degustar lento que adentre a vida interior, numa atitude ruminante de se alimentar no saborear da palavra criadora.

Nosso Senhor nos diz: “desejei ardentemente comer essa páscoa com vocês”. A nossa vida é uma páscoa do desejo de plenitude em Deus, é o saborear da eternidade que já habita e explode em mim. Nossas vidas é uma passagem entre mundos, numa transcendência permanente, que nos faz ser-em Deus. A vida é o sabor da liberdade, é o deguste absoluto de ser livre. O que chamamos de morte, não é outra coisa de que soltura interior, salto existencial, viver a liberdade do sabor de ser em-Deus. É sentar-se na mesa com todos os seus ancestrais para saborear da páscoa, nossa liberdade interior, no total desapego de si mesmo, deixado o outro de si, se manifestar em sua outridade. Ressureição é a plenitude da finitude, em seu sabor de eternidade na mundanidade. Finados é a festa da páscoa, o saborear da liberdade transformadora da vida, em vida de eterna saboridade.

A vida se dá no paladar, ante de comer somos uma pessoa, depois de comer somos outra. Antes da comida, vivemos separado do sabor, e temos desejos diferentes, fazemos a experiência da separação e divisão. Depois da comida, nos transformamos, em reencontro. O caminho da vida mística é viver o sabor de si mesmo na interação com o outro, nos encontramos no universo do sentido no sabor de tudo que nos alimenta. A comida é a vivência de unidade em plena perfeição da finitude em sua interação no sabor do viver, sendo como trigo triturado para ser pão do Céu.

Ser

Procuro ser sabor a cada dia,
Ser degustado com todo o meu desejo de amar,
A cada instante sou comida,
Pão da vida, sou unido a Deus,
Sou sementeira do amor, da paz e da justiça social.
Penso que faço o sabor,
Pela fé sou apenas o sabor de Deus em mim,
Me esforço para ser melhor a cada dia,
Aprendendo ser sabor, num deguste de amor de tu em mim.
Viver é sempre assentar-se à mesa,
Nossa vida é o sabor da páscoa a cada dia.
Liberdade vem e canta, o sabor do amanhã que vem!
O sal da vida em seu sabor, é a liberdade,
Ser, é liberdade interior,
Saborear é o livre desejo de ser-sendo,
Um todo corpóreo na transcendência do amor.

A morte

A morte não existe.
Existe sim, o pertencimento à Deus.
Uma eternidade, em que nos encontramos no sabor de Deus.

Nossa existência estar voltada para a totalidade,
Corpo-alma ressuscitado no sabor de Deus,
Finados não significa fim,
Mas, finalidade em plenitude.

Os que amamos nunca morreram,
Apenas partiram numa lida metamorfose mística,
Sendo unos em Deus,
Eles foram primeiro, nós vamos logo, logo depois.

Como será linda a canção:
Saborear teu encanto,
Ardente de desejo,
Por habitar tua casa,
Por toda a eternidade ser sabor da tua glória,
Sendo para ti o néctar das delícias de Sião.
Minha existência te deseja, meu Senhor,
Nos teus átrios vou morar por toda a vida,
Sendo para Ti, um deleite de sabor,
Sou uma flecha lançada na direção do Teu amor.

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Mauricio Soares
Saboreado pelo mistério que me criou,
Sendo sabor da terra na plenitude de quem sou.

Obs: Imagens enviadas pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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