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1 – Domingo da viúva importuna
Lc 18,1-8

Dom Helder Camara visitava, certa feita, uma comunidade, na periferia da Região Metropolitana do Recife. O salão comunitário está repleto de gente bem pobre. E já que o assunto é “justiça”, o “pai dos pobres”, como era chamado por muitos, não hesita em citar o conhecidíssimo ditado: “A justiça de Deus tarda, mas não falha!”… “Tarda não, Dom Helder!”, grita espontaneamente, lá de trás, um pobre velho, “o povo é que é apressado demais!”.

Mais uma vez, a fé, no cerne da Boa Nova de Jesus de Nazaré: a parábola da viúva importuna vem lembrar-nos que o Reino de Deus resulta da fé… É preciso entender, porém, que a prece insistente e permanente dos que têm “fome e sede de justiça”, apressará tanto mais a decisão divina, quanto mais quem suplica se compromete, efetivamente, a fazer a sua parte.

Consciência e fé só se comprovam pela ação. Quem não age, quem não cai em campo, quem não vai em busca dos seus objetivos, demonstra que ainda não está plenamente consciente… Quem, na força da fé, não se arrisca, não se lança na aventura do Reino, para que a vontade do Pai, a justiça de Deus seja feita “assim na terra como no céu”, demonstra que ainda não tem uma fé de verdade.

Essa é a razão da queixa final que Jesus deixa no ar… A pressa com que queremos ser atendidos, não é a mesma com que nos empenhamos em fazer nossa parte…

E o nosso canto, nesta celebração, terá a força de aquecer nossos corações e nos lançar nos caminhos da fé, engajando-nos, efetivamente, na luta pelos direitos de Deus, pelos divinos direitos do Povo?…

E a quantas andará nossa fé na conjuntura que estamos atravessando?… Ameaças e violências nos acossam de todos os lados, e muita gente parece fazer como o avestruz: esconder-se por trás de ilusões, para não ver e não se comprometer… Mais do que nunca, urge ter uma fé que VÊ, JULGA e AGE! As CEBs dos anos 80, um bom exemplo! O Sínodo da Amazônia, também!

O Documento de Aparecida

– 2007 –

  1. Em continuidade com as Conferências Gerais anteriores do Episcopado Latino-americano, este documento faz uso do método “ver, julgar e agir”. Este método implica em contemplar a Deus com os olhos da fé através de sua Palavra revelada e o contato vivificador dos Sacramentos, a fim de que, na vida cotidiana, vejamos a realidade que nos circunda à luz de sua providência e a julguemos segundo Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, e atuemos a partir da Igreja, Corpo Místico de Cristo e Sacramento universal de Salvação, na propagação do Reino de Deus, que se semeia nesta terra e que frutifica plenamente no Céu. Muitas vozes, vindas de todo o Continente, ofereceram contribuições e sugestões nesse sentido, afirmando que este método tem colaborado para que vivamos mais intensamente nossa vocação e missão na Igreja: tem enriquecido nosso trabalho teológico e pastoral e, em geral, tem-nos motivado a assumir nossas responsabilidades diante das situações concretas de nosso Continente. Este método nos permite articular, de modo sistemático, a perspectiva cristã de ver a realidade; a assunção de critérios que provêm da fé e da razão para seu discernimento e valorização com sentido crítico; e, em consequência, a projeção do agir como discípulos missionários de Jesus Cristo. A adesão crente, alegre e confiante em Deus Pai, Filho e Espírito Santo e a inserção eclesial, são pressupostos indispensáveis que garantem a eficácia deste método.

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O Sínodo da Amazônia:  – uma preocupação de quem se sente responsável pela preserva-ção da VIDA no Planeta: a flora, a fauna e, sobretudo, a vida humana, em primeiro lugar, indígenas, quilombolas e ribeirinhos daquela região, mas também, a vida da Humanidade!

– outra preocupação, a de quem quer ver a Igre-ja em condições de servir da melhor maneira ao Reino da Vida, evangelizando e fortalecendo as Comunidades Cristãs no seu compromisso com Jesus Cristo e  com as causas da Vida “assim na terra como no céu!” Nunca seremos bastante agradecidos a Deus e ao Papa Francisco pela graça deste Sínodo.

2 – Domingo do Fariseu e do Publicano
Lc 18,9-14

Caminhando pela estrada da vida, se formos suficientemente sinceros, e nos deixarmos trabalhar pela mão invisível, não a do Mercado, com suas ilusões consumistas e suas vãs propostas de grandeza e prestígio, mas a do Deus da Verdade e da Vida, entenderemos melhor a insistência com que Jesus, na sua caminhada, investe contra toda manifestação de orgulho e soberba, toda postura elitista e preconceituosa, toda atitude  de exclusão.

Se havia uma coisa que ele não suportava era a humilhação de uns por outros, qualquer tipo de ostentação.

Neste sentido, poderíamos pedir licença a Lucas para que Mateus nos venha em auxílio, com a primeira das Bem-Aventuranças:

“Felizes os pobres em espírito, porque deles o Reino dos Céus!”.

Aí está o retrato falado do publicano, bem lá atrás, no templo, olhando pro chão, batendo no peito e reconhecendo, humildemente, sua condição de pecador…

A Justiça de Deus que justifica, que faz justos os seres humanos, ela opera e se manifesta nas pessoas que se veem diante de Deus, simplesmente como filhos e filhas, ansiosos em fazer com alegria a sua vontade… e, em meio aos irmãos e irmãs, generosos no prazer de servir, sobretudo, a quem mais precisar… aqui e acolá, reconhecendo as próprias falhas e pedindo perdão…

Acima ou abaixo disso, está o pecado, que ensoberbece a uns e desqualifica a outros…

Nosso encontro semanal, em torno da Mesa do Senhor, deveria ser como uma ciranda, onde todos e todas, de mãos dadas, elevam confiantes o olhar para o Pai, contente em poder escutar, de nossas bocas, o canto afinado da irmandade que o glorifica.

Uma semana pela frente para nos darmos conta do que falta de compreensão, de espírito de acolhida, de convivência respeitosa com as diferenças… e do que sobra de preconceito e hipocrisia nos ambientes em que vivemos…

…….

Do Documento de Aparecida / 2007:

  1. Bendizemos a Deus com ânimo agradecido, porque nos chamou para sermos instrumentos de seu reino de amor e vida, de justiça e paz, pelo qual tantos se sacrificaram. Ele mesmo nos encomendou a obra de suas mãos para que cuidemos dela e a coloquemos a serviço de todos. Agradecemos a Deus porque nos faz colaboradores seus para que sejamos solidários com a sua criação pela qual somos responsáveis. Bendizemos a Deus que nos deu a natureza criada que é seu primeiro livro para que possamos conhecer a Ele e viver nela como em nossa casa.
  2. Iluminados pelo Cristo, o sofrimento, a injustiça e a cruz nos desafiam a viver como Igreja samaritana (cf. Lc 10,25-37), recordando que “a evangelização vai unida sempre à promoção humana e à autêntica libertação cristã”. Damos graças a Deus e nos alegramos pela fé, solidariedade e alegria características de nossos povos, transmitidas ao longo do tempo pelas avós e avôs, as mães e pais, os catequistas, os rezadores e tantas pessoas anônimas, cuja caridade mantém viva a esperança em meio às injustiças e adversidades.
  3. A Igreja deve cumprir sua missão seguindo os passos de Jesus e adotando suas atitudes (cf. Mt 9,35-36). Ele, sendo o Senhor, se fez servidor e obediente até a morte de cruz (cf. Fl 2,8); sendo rico, escolheu ser pobre por nós (cf. 2 Cor 8,9), ensinando-nos o caminho de nossa vocação de discípulos e missionários. No Evangelho aprendemos a sublime lição de ser pobres seguindo a Jesus pobre (cf. Lc 6,20; 9,58). E a de anunciar o Evangelho da paz sem bolsa ou alforje, sem colocar nossa confiança no dinheiro nem no poder deste mundo (cf. Lc 10,4 ss). Na generosidade dos missionários se manifesta a generosidade de Deus, na gratuidade dos apóstolos aparece a gratuidade do Evangelho.
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 Nesses últimos meses, em vários países de nossa América Latina, no Haiti, no Equador, na Argentina, e agora, no Chile, populações inteiras, estudantes, aposentados, indígenas, a Classe Trabalhadora, enfim, está se insurgindo contra as opressões do Sistema Capitalista Neoliberal, que explora, engana e mata… Ninguém está aguentando mais o sufoco do desemprego, dos aumentos abusivos… O povo está saindo pras ruas e gritando por uma boca só: “Chega de exploração! Chega de fome e violência! Chega de mentiras!” A repressão tem sido muita, mas a resistência é mais. Sinal dos Tempos! Tudo isso está sinalizando o quê pra nós brasileiros e brasileiras?… Até onde vai nossa acomodação?…

Obs: REGINALDO VELOSO, presbítero leigo das CEBs (essa é minha condição eclesiástica atual, o que me deixa particularmente feliz)
– Membro do MTC (Equipe Maria Lorena – Recife)  (terminou meu “mandato” como “Assistente Regional”)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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