Taciana Valença 15 de novembro de 2019

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Li em algum lugar e momento que o que ouvimos e o que vemos são assimilados pelo tálamo antes de chegar ao cérebro para que sejam interpretados. Já as mensagens olfativas vão diretamente do nariz para o córtex olfativo do cérebro, sendo processado instantaneamente. O córtex olfativo é envolvido com o sistema límbico do cérebro e amígdala, onde as emoções nascem e as memórias emotivas são registradas.

Isso tudo foi uma pequena busca minha para entender porque os cheiros marcam tanto minha vida. Hoje lembrei disso enquanto tomava café e preparava um lanche para meu filho (não, não é pirralho, o lanche era para levar para a universidade, rs, mãe sendo mãe).

Lembrei do cheiro do lanche e do suco que vinham na lancheira de plástico que levava quando criança para a escola. O lanche todo tinha um cheiro característico e me lembra ao mesmo tempo os momentos de insegurança que sentia algumas vezes quando abria a lancheira. Geralmente havia um suco, uma fruta com sanduíche ou biscoito. Mas todos tinham o mesmo cheiro, independentemente do “cardápio” do dia.

Lembrava da minha mãe, da hora de ir para casa, olhava os colegas que não eram mais chegados, pensava no que fazer no recreio, entre outras viajadas que sempre fizeram parte da minha personalidade. Parecia que o lanche era um momento de introspecção profunda e o que menos importava era o que tinha dentro. Confesso que eu mal sentia o sabor, mas aquele cheiro mexia com minhas emoções. Hoje pude sentir todas elas e o cheiro impregnou minha alma durante o café e, confesso, estou sentindo até agora.

Depois deu uma modernizada, passei para a garrafa térmica e a levar dinheiro para comprar na “cantina”, como era chamada a lanchonete da escola. Mas o momento continuava sendo de reflexões para mim. O cheiro da lancheira ficou, mas agora o cheiro dos jasmins do novo colégio marcavam meus pensamentos. Logo depois instalaram um mini banco para que colocássemos dinheiro e fôssemos passando cheques para comprarmos o lanche. Adorei isso porque na verdade eu não curtia lanche. Eu comia por obrigação. Era tudo novo, com nove anos passar cheque era o máximo. A ideia era que controlássemos nosso dinheiro (acho eu) ou, quem sabe, já se acostumar ao sistema (objetivo do banco, claro). Lembro que era o Banorte (mini banco Banorte).

Mas, voltando aos cheiros, tenho uma memória muito forte, os cheiros marcam minha vida. Perfumes, comidas… O cheiro do creme que meu pai colocava no cabelo, do perfume do primeiro namorado, do pão de ló saindo do forno da casa da minha vó, dos perfumes da puberdade e dos aromas que senti em tantos caminhos e descaminhos. Entro na máquina do tempo quando recordo os cheiros. Os sentimentos voltam à tona e viajo na linha do meu tempo. É bom, é mágico, é sentir e reviver tudo outra vez.

E agora o café, o cheiro que penetra na paz que mora dentro de todas as responsabilidades deste mundo atribulado…

Bom dia com cheiro de muita vida.

Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
http://pertodecasa.rec.br/

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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