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Essa frase, que está na imagem que ilustra esse texto, me fez pensar bastante, quando a vi postada no instagran de um amigo. Tenho pensado muito sobre competitividade, já escrevi sobre isso, inclusive, porque é uma coisa que me preocupa muito no mundo de hoje. As pessoas estão mais preocupadas em encontrar os erros nas coisas que os outros fazem do que em apreciar o que foi feito.

Após seis décadas de vida e cinco décadas de caminhada de Igreja, chego a uma triste conclusão: não importa onde você esteja, com quem você esteja, mesmo que o que você faça não ameace em nada às outras pessoas, se você se dedicar e, pior ainda, se fizer bem feito, vai fazer inimigos ao longo do caminho.

Snoopy em sua pose mais típica, deitado em cima de sua casinha, é, sem dúvida, o meu personagem favorito da Turma do Charlie Brown. Irreverente, desafiador e de personalidade forte, escreve, leva os amigos escoteiros pássaros (Woodstock e sua turma) para caminhadas e acampamentos, luta contra o Barão Vermelho na 1ª Guerra e é, acima de qualquer coisa, um personagem feliz.

Fora das deliciosas páginas dos peanauts de Charles Schulz, que leio desde muito tempo, pessoas felizes, determinadas, objetivas e sonhadoras, incomodam tanto quanto Snoopy incomoda, por exemplo, a mau humorada Lucy Van Pelt.

Como já falei em outros textos, comecei a minha caminhada de Igreja aos 14 anos, participando de reuniões de adultos, que todas as segundas-feiras se encontravam para refletir sobre o evangelho do domingo. Era um grupo de pessoas que moravam no bairro da Boa Vista e meus pais faziam parte. A cada semana a reunião era na casa de um deles. E foi através de Maria, amiga querida até hoje, que ingressei no SOS e passei a refletir o evangelho e os fatos da vida com uma turma da minha idade, sob a orientação de meu primeiro guru espiritual, o Pe. Ivan Teófilo.

Por ser uma pessoa que não desiste fácil dos desafios, sou bem persistente e dentro dos limites do meu conhecimento, sempre procurei aprender o que precisava ser feito e não tinha quem fizesse. Dessa forma aprendi a consertar fita de vídeo K7, a fazer site na internet no começo dos anos 2000, a usar o Pager Make para diagramar jornal, revista e livro e outros tantos softwares que facilitavam os trabalhos que precisavam ser feitos.

Tenho um problema de não gostar de cobrar às pessoas e, por isso, quando alguém não faz o que prometeu e isso compromete o todo, não cobro e vou lá e faço. Nem que tenha que aprender.

Não gosto de burocracia e nem de hierarquia. Quando, há muitos anos, assisti à série baseada no livro de Zélia Gattai Anarquistas Graças a Deus, descobri que era anarquista. Mas não é fácil ser anarquista em um mundo onde as pessoas não conseguem viver sem a sensação de poder, valorizam os títulos e a hierarquia e onde já ouvi frases como “democracia demais atrapalha”.

É engraçado como algumas pessoas não conseguem viver sem pautas e reuniões. Tenho um amigo que diz que já não suporta mais essa história de marcar reunião para marcar reunião.

Na era das mídias sociais, muita coisa se resolve em grupos de whatsapp ou telegrama, sem, necessariamente, estarem no mesmo espaço físico para combinar as coisas. Sou dessa turma. Faço parte de um grupo onde pessoas moram em São Paulo, Canadá, Noruega e Recife e vejam só, fazemos nossa confraternização de final de ano via Skype. Trocamos presentes de amigo secreto e tudo. E garanto que é bem divertido.

As tempestades assustam, dependendo de sua intensidade, podem até causar pânico. Mas, por outro lado, podem limpar as ruas, as calçadas, encher rios e trazer resultados positivos.

Durante oito anos me afastei totalmente de qualquer coisa de Igreja e fui trabalhar com política, em um local onde, quando entrei, não havia duas pessoas exercendo a mesma função, ou seja, não havia motivo algum para haver competição. Mas havia e era impressionante e, ao mesmo tempo, muito triste, ver como as pessoas sempre iam atrás dos erros. Eu fazia um jornal, uma espécie de prestação de contas das atividades do gabinete. Quando o jornal chegava da gráfica dava para ver, sem nenhum disfarce, pessoas procurando erros para apontar. Ninguém comentava se estava bom ou ruim no geral. Mas se havia um erro de digitação, uma foto com menos nitidez ou coisa do tipo, podia ter certeza de que iria ser salientada.

No meu trabalho hoje em dia isso não acontece. Ao contrário, há uma participação nos acertos e crítica realmente construtiva nos erros. Já nos caminhos da Igreja, para os quais voltei, com tristeza percebo que a competitividade e a necessidade de poder continuam as mesmas dos tempos que me afastei. Todas as vezes que me afastei de grupos ou movimentos de Igreja, foi porque não faço parte de nenhuma competição. Se alguém quer fazer o que eu faço, fique à vontade e tome o meu lugar. Sou tão avessa à competição que não gosto de nenhum esporte. Como falei em meu artigo anterior, para que um vença, sempre haverá um derrotado. E isso não é uma coisa boa. Quem vence não se importa que outros estejam tristes. O importante é vencer.

Hoje, mais madura, essas coisas já não me afetam mais. Já não me levam a me afastar e deixar o caminho livre. Já não fujo da raia, como fiz a minha vida toda, por não saber lidar com quem não gosta do que faço ou da maneira que faço. Se o que estou fazendo traz algum bem para outras pessoas e o meu jeito de ser incomoda a outras, paciência. Sigo em frente ao lado das pessoas que escolheram se molhar comigo.

Há uma música de meu compositor soberano, Chico Buarque, chamada Bom Conselho da qual me identifico totalmente com uma frase que, hoje, tenho como lema: “Eu semeio vento, na minha cidade. Vou pra rua e bebo a tempestade”.

Finalizo com um conselho dado pela avó de Frei Betto, em seu novo e delicioso livro “Minha Avó e seus mistérios”:

ALÍVIO DO CORAÇÃO

“- Leve sempre o desaforo para casa, porque se deixá-lo na rua fará mal às pessoas. Ao entrar em casa jogue-o na privada e dê descarga. O coração se alivia.

– Não deixe a mágoa afogar o coração. Isso confunde a razão e desperta ódio. Odiar é atirar-se de um prédio por raiva de alguém, na esperança de que o outro morra. O melhor é não tabelar ninguém, pois se o outro não pagar o preço que lhe impôs, você não se sentirá lesado e tomado por ânsias de vingança”.

Obs: A autora é jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
Site – jornalistasweb.com.br
blogs – misturadeletras.blogspot.com.br 

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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