Padre Beto 15 de novembro de 2019

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Um jovem negro é atacado e arrastado pelas ruas em uma morte que chocou a cidade inteira. Os pais e amigos, revoltados, clamam por justiça. A revolta cresce ao ponto de explosão devido à grande exposição dos fatos pela imprensa. No meio deste turbilhão, Billy Rowles, o delegado, tem uma investigação a terminar e o prefeito, R.C. Horn, tenta manter os ânimos calmos para evitar uma revolta como a gerada em Los Angeles pelo assassinato de outro negro, Rodney King. “A Face do Mal”, de Jeff Byrd, é uma história real que mostra como a vida individual não está desligada de uma evolução coletiva.

Em Mc 13, 24-32 nós encontramos um discurso apocalíptico típico da época de Jesus. Mas para compreendê-lo é preciso entender que os Evangelhos foram escritos depois da morte de Jesus e muitas falas do próprio Cristo são criações das comunidades. Por exemplo, o versículo 30, “esta geração não passará até que tudo isso aconteça”. Esta frase representa a visão da comunidade que acreditava realmente que o mundo iria acabar após a morte de Jesus. Outro exemplo é o versículo seguinte, “o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”. Esta era uma profissão de fé das primeiras comunidades. Porém, o que nos chama a atenção no discurso de Jesus é em primeiro lugar a expressão “Filho do Homem”, a qual ele utiliza, não na primeira pessoa, mas na terceira pessoa do singular. O filho do homem é sempre um “ele”, alguém que virá. Mais tarde, as comunidades irão acreditar que o Filho do Homem é o próprio Cristo e, por esta razão, encontramos partes dos Evangelhos que afirmam que o Filho do Homem será crucificado, como também daí surge a crença na segunda vinda, ou seja, na volta de Jesus. Aqui é o segundo ponto que nos chama a atenção. Jesus não fala de uma “volta”, mas da “vinda” do Filho do homem. Na verdade, toda a visão apocalíptica de Jesus se refere a um fenômeno individual que damos o nome infeliz de morte. O discurso é sim sobre o fim do mundo, mas o fim do mundo para cada um de nós. Nós recebemos o dom da vida de Deus que é eterno e, ao mesmo tempo, a possibilidade de passarmos por esta existência e caminharmos para a completude. Como o nosso parto foi um passo decisivo para a nossa transformação como pessoa, a morte é uma passagem decisiva para nos tornarmos completos, ou seja, o Filho do Homem. O Filho do Homem virá para cada um de nós a partir do momento que passarmos pela ressurreição, ou seja, nascermos para a vida nova em completude. Nesse momento, nós nos julgaremos com completa consciência e liberdade, sem os limites que esta existência nos impõe. Se assumimos esta perspectiva tudo se modifica em nossa existência. Muitas pessoas buscam o sentido da vida, mas fora de suas vidas cotidianas. Nós temos em nossa própria família e atividade profissional muitos desafios que poderíamos solucionar ou realizar e deveríamos começar por estes. Nietzsche descreve o tempo como um “eterno retorno”. O que ele nos fala não é de uma repetição do tempo, mas do nosso esforço em tentar realizar as coisas tão bem feitas que poderíamos fazê-las eternamente. Ou seja, nossa missão é transformar esta vida em uma obra de arte. Esta deve ser construída onde estamos e com o que fazemos em nosso cotidiano. Assim, seremos verdadeiros filhos de Deus neste mundo e verdadeiros filhos do homem no mundo de Deus.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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