Ninguém nasce com a maturidade já formada, esta resulta de um processo de construção que dura toda a vida. Não são os anos vividos que determinam se alguém alcançou a plenitude e segurança pessoal, e sim a liberdade da autenticidade, de poder amar, sentir-se amado e colocar seu amor à serviço sem interesse de tomar posse de outra pessoa ou esperar retornos.

Por maturidade entende-se a possibilidade de desenvolver durante o curso da vida as potencialidades e capacidades que conduzem a pessoa à segurança sobre si mesmo e sobre a realidade com a qual convive. Nessa caminhada contínua entram em jogo as características da pessoa, pois cada indivíduo amadurece à sua maneira e o produto final é único, não pode ser repetido. Esse ser único que não pode ser repetido é a identidade da pessoa.

A auto-estima é a principal condição para o desencadeamento do processo de amadurecimento, pois é praticamente impossível dissociar “segurança sobre si mesmo” da capacidade da pessoa em acreditar nas suas próprias condições e de afeto consigo mesmo. Isto porque se alguém não encontra em si, potencial suficiente para lidar com as questões que lhe são colocadas, naturalmente ela buscará fora (de si) a melhor fonte para suprir suas necessidades.

Desta maneira pode-se estabelecer a carência de autonomia e de proteção, reforçada pela atitude de fixação em figuras referenciais externas, a princípio paternas, reproduzidas adiante noutras pessoas como a da professora, do amigo, do superior, etc. Não que a referência afetiva seja prejudicial, mas a fixação dela internamente como superposição da sua própria identidade, compromete a possibilidade da autenticidade das características pessoais; ato contínuo, a pessoa desconhece a si mesmo, confunde até os seus ideais com os de outra  pessoa .

O caminho em direção à maturidade psicológica pressupõe o contínuo exercício de conhecimento sobre si mesmo, da própria história, passada e presente, e da capacidade de acolhimento da sua pessoa e da sua história, das dificuldades que são comuns a toda pessoa em desenvolvimento. Rejeitar este olhar sobre si mesmo é rejeitar a possibilidade de se possuir sempre mais e saber com mais segurança as melhores decisões para si. Quanto mais a pessoa se conhece, maior é a certeza de que caminho a seguir, de com quem estar e de como seguir.

Todo processo é feito de etapas que são definidas a partir de cada pessoa, de um modo bem particular. No entanto, há algumas etapas que podem se caracterizar como comuns no decorrer das caminhadas.

  • Processo da dependência para a autonomia – a dependência é própria da criança e deve predominar apenas nesta fase, pois a pessoa precisa aprender a decidir sem depender das decisões alheias (os outros representam apoio e não substituição).
  • Do prazer para a realidade – é natural para o ser humano a busca do prazer e a negação da dor. Mas a pessoa em amadurecimento não pode guiar a sua vida na busca só do prazer. É preciso aprender a renunciar muitas coisas que dão prazer imediato, em vista de metas e projetos mais definitivos para a sua maior realização.
  • Do desconhecimento para o saber sobre si – maturidade pressupõe conhecimento de si mesmo e da realidade (como já foi dito anteriormente). Exige um assumir e se comprometer com a transformação de si e da realidade.
  • Da sexualidade infantil para a maturidade sexual – a sexualidade é uma realidade inerente a toda pessoa, presente no longo processo de crescimento e de integração junto com as demais dimensões que formam a personalidade. É necessário conceber esta passagem dentro deste processo global de desenvolvimento da pessoa, num movimento de saída de si para o outro, da realização egocêntrica para o cuidar da pessoa amada, passagem do amor para dentro para o amar para fora.
  • Da amoralidade para a moralidade – a pessoa imatura tem dificuldade de distinguir entre o bem e o mal, o certo do errado, porque depende dos posicionamentos alheios, não possuindo uma escala própria de valores. A moral é resultado da responsabilidade pessoal. Assim a vida é orientada conforme os valores e projetos que tenham verdadeiro sentido com o que a pessoa realmente é e almeja.
  • Do egocentrismo para o altruísmo – a exagerada preocupação por si mesmo é sinal de imaturidade. A preocupação pelo que está fora de nós, os outros e a sociedade é o que aperfeiçoa e dá sentido à vida. É a descoberta do amor amadurecido, pois só as pessoas maduras amam não apenas para a realização pessoal, mas do outro também, e muitas vezes preferencialmente pela realização do outro, residindo aí a própria realização.

Enfim, toda pessoa, desde a concepção, é vocacionada ao crescimento. O tempo todo percorre toda sua existência numa perspectiva constante de possibilidades para ser e crescer continuamente. Eis uma via para garantia da realização pessoal, que é o compromisso para favorecer seu processo de maturidade, na busca contínua do autoconhecimento, aceitação de si, garantia da autenticidade, liberdade na relação com o outro e segurança nas decisões.

Tudo em nome do fazer valer a própria existência, a auto realização histórica e a garantia de um sentido para sua vida.

Ivan Rodrigues
[email protected]
Psicólogo, Educador e representante do Colégio Antares no Programa das Escolas Associadas da UNESCO.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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