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Hoje faz sol no meu coração. Estou só e o som difuso da televisão me faz lembrar que o mundo existe. Acordei coberta de pontos luminosos. Sonhei com estrelas caindo sobre mim e me senti purificada. Ainda na cama, pensei no cavalheiro andante dos meus pensamentos. No sonho, caminhávamos de mãos dadas numa fria e silenciosa madrugada. De repente, te tornaste uma realidade iluminada. Talvez, por isso, tenhas vindo a mim em forma de estrela.

 Muito me preocupa a velocidade da vida. Sinto que ela passa célere tal qual um cometa. Esperanças são alimentos para o coração. É uma forma de não esvaziá-lo. De repente a mulher torna-se frágil, solitária. Não tem medo e luta para não arrefecer seu arsenal de sonhos, onde as lembranças são fortes e latentes. 

Em qual mundo habitas nesse céu infinito? Hoje vivo a invasão lenta da velhice que teima em chegar e permanecer. Infelizmente é a lei da vida – velhice ou morte – a estação definitiva para onde todos nós iremos. Dialogo com o vento, o céu e o mar na ânsia do reencontro, do toque, dos gestos e das palavras. Tudo ilusão! O meu coração solitário te espera. Vem, antes que o desejo se esvaia na liquidez do tempo. No meu reino de sol e sal serás bem-vindo. As águas cálidas do atlântico irão envolver-te em afagos e ternuras. A saudade romperá as barreiras do tempo!

 Hoje, tenho mais palavras do que gestos. Serás embalado pela voz suave que o tempo não afetou. Vamos nos embebedar na companhia de Baco e Eros e aí faremos o nosso Olimpo. Afastaremos as Nereidas, para que não atrapalhem o sonho. Iremos ao céu sem temer a fúria do mar, do fogo, das trevas. O amor se purifica com o tempo e arde num fogo brando e continuado, diferente da paixão, que explode e destrói tudo à sua volta.

Se não podes ser real, aceito a tua presença em sonhos etéreos e luminosos. Amo-te com a ternura da amizade tão fielmente sedimentada. Ser amigo é melhor do que ser amante: um é para sempre, o outro é névoa que a gente vê fugir nas tempestades do tempo. Ina Melo. Janeiro/03

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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