1. Alguém já disse que “Francisco era tão humano, tão humano, que só poderia ser santo”. A grandeza consiste em dizer que ser santo é ser humano e nunca a sua negação. Sem nunca esquecer que canonizar alguém já foi uma forma de domesticar a irreverência e a radicalidade de revolucionários e profetas e a exaltação de pessoas um jeito de afastá-las de serem exemplos.
  2. Filho de rico comerciante, nos albores do capitalismo, Francisco viveu, à exaustão, a libertinagem de um burguês trovador que tendo dinheiro, podia juntar amigos e gozar de todos os prazeres da vida. Mas, a vida de emoções não preenche a ambição de um ser humano. Ele queria ser reconhecido, ter status e, por isso, buscou na guerra, a condecoração de Cavalheiro.
  3. Perdeu na guerra, caiu preso e foi atacado pela malária. Como muita gente cujo ativismo não lhe deixa tempo para refletir, a prisão e a doença foram uma escola, um tempo de ócio, para pensar na vida. Um dia, meio febril, pareceu ouvir: “quem pode fazer mais por ti, o senhor ou o servo”. “O senhor”, disse. “E por que abandonas o senhor e preferes o servo? Volta para casa”.
  4. Voltou humilhado pelo fracasso e enfraquecido pela doença. Continuou a ser o “rei dos banquetes” e até escolhido “rei dos foliões”. Mas, já era outro, cheio de desânimo e desgosto. Certo dia, após rondar uma propriedade do pai, parou na igrejinha de S. Damião. Ao olhar o crucifixo pareceu ouvir o Cristo dizendo: ”Não vês que minha casa está caindo? Conserta a minha igreja”.
  5. Não teve dúvidas. Passou a prover o conserto da igreja, usando o dinheiro da venda de tecidos, retirados da loja do pai. O pai furioso queria a restituição do dinheiro e apelou até ao bispo para conseguir. Só que Francisco, na praça, numa feliz respondeu: “senhor, com alegria, devolvo não só o dinheiro, mas até as minhas roupas” e tirando a roupa colocou-a nas mãos do bispo.
  6. Até hoje”, disse, “chamei de pai a Pedro Bernardone, como decidi servir a Deus, lhe restituo esse dinheiro que causou tanta preocupação e também as roupas; a partir de agora só quero dizer ‘Pai nosso, que estais no céu’…” e, a partir daí, passou a vestir uma roupa de camponês. Foi a proclamação de desapego, de liberdade, de protesto… de identidade com os pobres.
  7. Francisco fez sua conversão – voltou ao leito da estrada que sempre deveria ter trilhado. Seu exemplo atraiu muita gente para a igreja que não é templo, mas, caminho, forma de vida. Roma pensou com ele trazer o povo de volta à igreja que caía aos pedaços. Ele tentou pregar às elites, mas cansado, decide falar às piabas e pardais, ou seja, os pequeninos que ouviram sua voz. 04 de outubro 2.019

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