Essa frase enigmática, sobre a qual reflito sob a ótica da Ciência e da Razão (reconhecendo que, a princípio, ambas talvez sejam limitadas para compreender o ilimitado), aparece numa passagem bíblica (Jo 8:31-32) que, independente das inúmeras versões, é mais ou menos a seguinte: “Se permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Mas em outra parte do Novo Testamento (Jo 18:37-38) é relatado que Pilatos indagou Jesus: “O que é a verdade?” E Jesus teria permanecido em silêncio. É relevante recordar mais dois outros episódios. Certa vez perguntaram a Gautama, o Buda, qual era a verdade sobre a “causa de todas as causas”. E Buda também teria permanecido calado. E Husaynibn Mansur al-Hallaj, mestre sufi, foi crucificado por declarar “eu sou a verdade”. Esses acontecimentos indicam que a tentativa de interpretação do vocábulo “verdade”, além de difícil, pode ser perigosa. Entretanto, como profissional ligado à Ciência, tenho que ser, obrigatoriamente, um “explorador do infinito”, através da investigação constante da “verdade”, mesmo sabendo que, para ela, todas as verdades são provisórias e o conhecimento revelado pelo método científico é muito mais um estado de “estar verdade” do que “ser verdade”. Minha tentativa de “decifração” se inicia a partir de duas máximas. A primeira se encontrava no templo exterior de Luxor, a antiga capital dos Faraós, e dizia: “O Corpo é Casa de Deus”. A segunda, no templo de Delfos, o famoso “Oráculo de Delfos”, indicava “Conheça a Ti Mesmo” que, segundo alguns, seria (ou deveria ser) “Conheça a Ti Mesmo e Conhecerás o Universo”. Ou, ainda, “Conheça a Ti Mesmo e Conhecerás o Universo e os Deuses”. Como a Ciência também pode ser definida como a arte de fazer perguntas e buscar respostas utilizarei, como “bússola”, o seguinte questionamento: o que a Ciência “conhece” sobre a “origem” de nosso corpo físico? Resposta: O nosso corpo é a expressão, manifestação, ou estruturação biológica, das informações que estão em nossos cromossomos, em nosso DNA, transmitidos por nossos pais que, por sua vez, os “adquiriram” de nossos avós, e assim por diante. Sem dúvida, todos nós os “herdamos” de todos os nossos antepassados, desde os primeiros hominídeos (de fato, muito mais além). Mas onde, especificamente, está acumulada toda essa informação que “molda” nossa estrutura física, quantitativo de dados que, para alguns, corresponderia a algo como 1000 livros com mil páginas cada um? Acho que encontraríamos uma única resposta em todas as obras de ensino básico e superior: todos esses “livros” estariam nos genes, que são segmentos de DNA. Mas, continuando a “fazer” Ciência, isto é, seguindo a fazer pertinentes perguntas, eu indagaria: de onde vêm as informações contidas nos genes? Apesar de complicada, a mais plausível e racional resposta é que elas venham da fila dupla de nucleotídeos que os formam. E o que são os nucleotídeos, que podem ser o lócus desse maravilhoso conjunto de informações? Novamente a Ciência nos diz que são compostos, formados por três bases nitrogenadas (purinas ou pirimidinas), um fosfato (ou ácido fosfórico) e um glicídio/açúcar do grupo das pentoses (riboses ou desoxirriboses). E essas bases, fosfatos e pentoses são formados de quê? Onde, finalmente, fica a preciosa “fonte de informações” que estamos a procurar? Pela lógica, nossos “alfarrábios” estão naquilo que formam as purinas (adenina e guanina) ou pirimidinas (citosina, timina e uracila), o fosfato e a pentose. E o que “formam” as purinas, pirimidinas, fosfatos e pentoses? Qual seria a mais provável, racional e “conseqüente” resposta para nossa procura do “esconderijo final” da extraordinária “biblioteca” biológica? As informações “só” podem estar nos átomos, mais especificamente nos de carbono, hidrogênio, nitrogênio e oxigênio que formam as bases, ou nos átomos de fósforo e de oxigênio que formam o fosfato ou ainda nos cinco átomos de carbono, mais um de oxigênio e um de hidrogênio, que formam as pentoses. Ou melhor dizendo, no conjunto de todos eles. Pela mesma racionalidade, e nexo relacional, somos obrigados a inquirir sobre em que específica parte dos átomos está essa “coletânea de livros”, essa “wikipédia evolutiva”, pois os átomos são compostos por prótons, nêutrons e elétrons. Em verdade, os prótons e nêutrons são compostos de quarks e o elétron é um lepton, e ainda existem bósons e uma infinidade de outras partículas e antipartículas. Então, finalmente, onde se “localizam” esses volumes de “registros informativos”? A atual “verdade científica provisória” permite supor que esse “compêndio fundamental” pode estar em cada quantum que, comprovadamente, pode acumular informações. Sim, energia é igual à informação e informação é igual à energia, e o quantum pode receber e transmitir informações. E, mais além, a Ciência também nos indica que toda a energia que forma o Universo tem como fonte o Big Bang. Vamos então, agora, fazer a “viagem de volta”. A “Fonte” de energia primária ao “explodir, expandir ou se manifestar”, liberou os quanta, que vem, progressivamente, “acumulando informações” nestes 13.7 bilhões de anos de evolução do Universo, gerando átomos plenos de informação, que por sua vez geraram bases nitrogenadas repletas de informações que, juntas, formam nossos genes, apinhados de informação, que unidos formam nosso DNA e nossos cromossomos, que por sua vez geraram o belo e complexo organismo humano. Em outras palavras, o que afirmo é que nosso corpo físico é o “fiel depositário” de 13.7 bilhões de anos de informação, inclusive aquelas imanentes na Causa das Causas. Categoricamente, a Ciência moderna nos permite “hipotetizar”, como “verdade provisória”, que somos, todos, parte da Verdade. Uma de suas incalculáveis expressões. Em verdade, seríamos feitos da Verdade. Cada um de nós é a Verdade manifesta, pois, em outras palavras, a Verdade é o Tudo, que está no Todo, e é o Todo que está em Tudo. Deste modo, respondendo às questões filosóficas básicas, “viemos do Eterno (ou Big Bang, como queiram), somos feito do Eterno, voltaremos ao Eterno, e estamos neste planeta para realizar todo o potencial do Eterno (Vida em Abundância), quando então, plenamente, seremos o “Eu Sou”. E quando reconhecermos, ou relembrarmos, esta “cristalina” verdade “adormecida” em nosso âmago, e a colocarmos em nossos corações; quando esse “entendimento” passar a habitar o nosso cerne, é nesse momento que atingiremos a Iluminação, que também pode ser chamada de Samadhi, de estado Búdico, de Consciência Crística, ou de Krishna, ou, ainda, o desabrochar da Rosa na Cruz. Assevero que, se somos (e sem dúvida o somos) a expressão de 13.7 bilhões de anos de informação, o futuro corresponderá a esse tanto, mais as informações produzidas por nossa existência nesta vida. Informações essas, que assim como as geradas em nosso passado evolutivo, serão eternas. Portanto, temos que ter em nossas mentes e corações que o que cada um de nós pensa, sente, fala e faz, ficará para sempre registrado no “eterno arquivo”. Em outras palavras, temos que ter total consciência que cada um de nós é construtor do presente, mas também do futuro. Cada um de nós é co-construtor do atual e do vindouro Universo. Assim sendo, tornarmo-nos um ser humano melhor, será também criar e melhorar, em todas as dimensões, aquilo que irá ser desfrutado, eternamente, por nossos descendentes e por toda a humanidade.

Obs: O autor é *Ph.D, professor da UPE e membro das Academias Pernambucanas de Ciências e de Medicina

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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