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Autonomia: do grego autonomía, que significa aptidão ou competência para gerir sua própria vida, valendo-se de seus próprios meios, vontades e/ou princípios. Me lembro quando minha irmã era bem pequena e decidiu ir embora de casa. Pegou alguns pertences (principalmente brinquedos), colocou dentro de sua mochilinha da escola e foi morar na lavanderia que fica no fundo da casa. Estava querendo ser independente, autônoma. Na psicanálise aprendemos que, quando uma mãe consegue dar um suporte emocional e físico suficientemente bom para seu filho, esse terá grandes chances de internalizar a mãe dentro de si, gerando com o tempo uma capacidade de cuidar da sua própria vida. Não é que essa criança, quando adulta, não passará por dificuldades e problemas existenciais na sua caminhada rumo a maturidade, só estou dizendo que ela terá um mínimo de suporte psíquico para tentar crescer como pessoa mesmo com tantascontingências que o mundo nos apresenta.
Mas existe outra questão. Muitos de nós tem uma certa dificuldade em“dar” autonomia para o outro. Por que? Entre os vários motivos inconscientes e conscientes, um deles é o nosso problema de autoestimabaixa, onde precisamos mostrar a nossa importância a todo custo ao outro, seja filho, pai, esposa, namorado, chefe, educador, psicólogo líder religioso etc. Para mostrar nossa importância, tentamos ao máximo “infantilizar” ou retardar o crescimento dessas pessoas que são cuidadas por nós. Alguns pais entram em crise quando seus filhos conseguem ficar bem ao dormir na casa do amiguinho, “esquecendo” dos mesmos de tão divertido que foi essa aventura fora de casa. Líderes religiosos e chefes de trabalho, com medo de perder o posto ou não ser mais lembrado pelos seus subordinados, tentam a todo tempo fazer que seus liderados pensem que não têm capacidade nenhuma de executar alguma tarefa sem o auxílio e supervisão deles. Se acham semideuses. E semideus, não é nem um superdeus, nem um super- homem. Talvez na história dessas pessoas, quando crianças, possa ter ocorrido uma falta de acolhimento paterno e materno suficientemente bom já explicado acima. E, agora adultos, inconscientemente, querem cobrar a atenção de outros, antes faltado em suas próprias vidas.
Conheço homens que brigam com a esposa ou namorada quando as mesmas querem aprender a dirigir. Eles alegam que têm medo da nova motorista no volante. Na verdade, podem estar com medo de não ser mais útil à elas. É a única carta na manga que têm para não ser abandonado pelas mesmas. Isso vale também para homens e mulheres quando tentam voltar a estudar, trabalhar, ter algum hobby.
Tenho que salientar que não estou falando de negligenciar e abandonar o indivíduo para que ele “cresça. Você não poder uma dar uma carta de alforria para alguém que ainda não tenha maturidade para decidir por ela mesma. É como você tentar dar uma feijoada para um bebê recém- nascido comer. Ele ainda não está pronto ainda para comê-la. Poderá um dia.
As pessoas mais maduras, mesmo que sofrendo, entendem que o outro está crescendo e chegam a ficar felizes por serem “esquecidas” pois esse é o maior sinal de um bom trabalho realizado. A autonomia e independência são dádivas. Não é justo tentarmos impedir o crescimento do outro por egoísmo disfarçado de cuidado e amor. O próprio Jesus, considerado um dos maiores líderes que o mundo já conheceu, trabalhou arduamente para treinar seus discípulos em sua missão. Ele não os prendeu, disse para irem “ganhar o mundo” com o que aprenderam.
Termino com o a frase do bom velhinho Rubem Alves “ Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”. Eu digo que, talvez, esse pássaro possa voltar, quem sabe um dia, para agradecer o cuidado investido,mostrando que a maior forma de amor, foi ter dado o suporte para ele crescer e, mais ainda, por ter aberto a portinha da gaiola.
Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
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