Quinta-feira, 11 de abril, foi a primeira de sete etapas por onde 900 milhões de eleitores (!!!) vão às urnas na Índia, um país com comportamentos digitais parecidos ao Brasil.
Sim, as fake news por Whatsapp e redes sociais tomaram conta da vida dos indianos.
Igualmente similar ao Brasil, a população está perdida na espiral da desinformação e as instituições não sabem o que fazer.
Em outubro, Argentina e Uruguai terão eleições gerais. Canadá e Portugal também. A lista de países com eleições em 2019 é extensa.
Extenso também é o debate sobre uma possível regulamentação pública do Facebook e de seus tentáculos: Whatsapp, Instagram, Messenger.
Há cinco anos que a discussão não sai do lugar. Até agora.
O Facebook sempre rechaçou a ideia. Nos últimos meses, o próprio Mark Zuckerberg passou a ser principal voz a favor de uma possível regulamentação.
O que mudou?
O fogo na panela de pressão é que aumentou e está prestes a explodir.
No Brasil, estamos acostumados a acompanhar a cobertura sobre a eventual “conspiração” da Rússia na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos — ah, como eles adoram esses enredos, não é mesmo?
Contudo, fora dos holofotes da imprensa e da distribuição das agências de notícias, a pressão em vários países emergentes e principalmente na União Europeia segue em grau elevado e dificilmente terá volta.
Sem saída e pressionado nos quatro cantos do planeta, o Facebook quer seguir a cartilha que o colocou na liderança global e quebrou todas as outras redes sociais: preencher as lacunas que outras empresas não conseguem — ou não querem — preencher.
E com o apoio daquele deus que é mais sagrado do que a vaca indiana: o livre mercado.
Se é para regular, o Facebook acredita que deve ajudar a definir as regras e diretrizes. Como tem sido, aliás, nos últimos dez anos: na publicidade, na comunicação, no marketing digital, na vida das pessoas.
Será que adianta regular uma rede com a própria rede dizendo o que pode e o que não pode fazer? Tem sido assim até agora.
Existe um outro caminho, ainda pouco explorado e analisado, porém apontado como possível solução por uma parcela da indústria de tecnologia: tirar a regulamentação dos governos e passar para os algoritmos.
Novos algoritmos de código aberto e livres para verificação. Que se encarreguem de definir diretrizes regulatórias no lugar dos analistas pagos pelo Facebook e dos burocratas pagos pelos governos.
Em tese, esses algoritmos seriam capazes de prevenir os abusos — previstos em lei — antes mesmo que as ações em redes gerem a violência que têm gerado. Seria uma ferramenta de prevenção prioritária.
O argumento é interessante: na velocidade que a tecnologia tem andado (voado!), qualquer marco regulatório vai nascer natimorto. Levará anos para ser consolidado, discutido, aprovado, sancionado. Olá, Brasil. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Algoritmos seriam capazes de criar parâmetros hoje impossíveis nos marcos regulatórios: índices de relevância, medidas sintéticas de classificação, respostas imediatas e monitoramento das diretrizes em tempo real. E quem sabe, punição em tempo hábil e multa direto na fonte.
Em bom português, a máquina seria responsável por monitorar, metrificar e executar as ações regulatórias.
As duas primeiras ações já são feitas, porém para atender à publicidade paga e não ao interesse público. Mas quem vai definir o interesse público? A máquina ou o governo?
Provavelmente, será quem conseguir pagar a conta da implementação.
Governos imprimem dinheiro, a máquina gera bitcoin. (11.04.19)