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Gilberto e Ingrid foram passear no final de semana passado. Ao contrário do que o casal esperava e planejava, a viagem tão desejada “deu” errado. Gilberto percebeu (muito em cima da hora), que precisava trocar o óleo do carro. Gastou mais dinheiro e tempo do que havia planejado. Os dois não conheciam nem a cidade nem o caminho da pousada onde iriam se hospedar, havia acontecido recentemente um acidente na pista, o GPS não funcionou, estava muito frio. O stress começou a se instalar no casal, Ingrid somatizou com uma forte dor de cabeça e Gilberto cogitou a possibilidade de voltar para casa.

Gilberto percebeu Ingrid chorosa e desapontada, e, num ataque de confiança repentina, falou pra si mesmo que chegaria àquela bendita pousada não importasse o que fosse acontecer. Depois de algumas horas e estradas diferentes alternando asfalto, terra pedra e mata, o casal cansado, chega ao destino tão aguardado.

Essa é uma história cotidiana e verídica sobre a qual gostaria de tecer uma reflexão. Tentamos a todo tempo controlar tudo e a todos. Na tentativa de controlar tudo, ficamos escravos do nosso próprio controle. A vida, quando quer brincar com a gente e nos ensinar algo, nos revira de pontacabeça tirando-nos do conforto habitual. Se essa viagem tivesse ocorrido como planejado, o stress seria menor, mas o aprendizado também. Gilberto pôde perceber que no momento de dificuldade conheceu uma mulher acolhedora e paciente, e Ingrid, encontrou um homem resiliente em Gilberto, que até então não conhecia. Somos muitos dentro de um só e só conhecemos algumas partes de nós experienciando a vida.

Por isso, acho que quando se deseja relacionar-se com uma pessoa, deve-se perguntar a si mesmo: “Gostarei e suportarei me relacionar com essa pessoa que conheço e, uma outra, que é ela mesma, mas ainda não faço ideia de quem seja”? Abraçamos tudo de bom e tudo de ruim num mesmo ser.

Gilberto se alegrou em ver Ingrid patinar no gelo. Ele não patinou, mas ficou feliz por ela ao vê-la escorregando no gelo, pois viu que ela estava se divertindo muito. Ela, com um olhar amoroso, riu das tentativas dele em acertar o alvo com arco e flecha, porém sem nenhum sucesso, já que era a primeira experiência de Gilberto com esse instrumento. O casal que brinca se esquece de brigar.

Nando Reis canta que “Tornar um amor real é expulsá-lo de você para que ele possa ser de alguém”. Só fica feliz com a alegria do outro quem consegue amar algo fora de si.

Poderia ser pior, os dois poderiam conhecer apenas o lado ruim deles nessa viagem, mas não foi. Um dia será e eles terão que tentar suportar suas partes ruins.

Eu perguntei a eles: “ O que mudariam nessa viagem, se pudessem voltar no tempo”? E eles responderam: “Não mudaríamos nada, que bom que deu tudo errado”.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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