Ronaldo Coelho Teixeira 15 de setembro de 2019

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Outro dia indaguei ao meu filho de oito anos, que está na segunda série do ensino fundamental, por que ele não trocava gibis para ler com os seus colegas de colégio. “- Eles não têm, pai”. Essa foi sua resposta curta e desapontada, e o início de um susto que se confirmava: o brasileiro continua lendo cada vez menos.

Costumo comprar – mesmo que seja em sebos – revistas em quadrinhos para os meus quatro filhos, como forma de incentivá-los na descoberta do prazer da leitura. Pois, quando criança, o meu deleite pelo saber começou através delas. Eu e meus três irmãos comprávamos, trocávamos – e, às vezes, até roubávamos dos colegas (estripulias de menino!) – e, por fim, colecionávamos aquelas prediletas.

Começamos, como a maioria, lendo os gibis pertinentes às nossas faixas etárias: Zé Carioca, Pato Donald, Luluzinha, entre outros. Depois, passamos a ler os nossos super-heróis favoritos, como Homem Aranha, Capitão América, Conan, e por aí vai… Como o processo se dá numa crescente, no início da adolescência li o meu primeiro livro. Foi um sobre antitabagismo (de cujo título sequer me lembro). Saí de um gibi direto para um livro e não parei mais.

Por isso, sem querer fazer uma apologia das HQs – que chegaram a ser demonizadas por alguns educadores – penso que, neles, está uma das portas mágicas do fantástico mundo do conhecimento. O sistema educacional brasileiro, apesar dos visíveis avanços, ainda continua burro e travador sob vários aspectos. Nossas crianças seguem recebendo, goela abaixo, os assombros de uma educação que sequer respeita a realidade sócio-cultural e geográfica do educando.

Assim, dá pra entender porque as idéias educativas e revolucionárias de um Paulo Freire, de um Rubem Alves ou de um Anízio Teixeira, ainda não vingaram de todo. A escola brasileira não educa ninguém para pensar, mas apenas para repetir o que aí está, ou seja, simplesmente visa à reprodução de um modelo educacional no qual recebemos e repetimos os valores instituídos, sem quaisquer questionamentos.

Além de aguçar a imaginação criadora, o gibi permite o aprendizado (ou a melhoria) da escrita e da fala. E proporciona ainda uma aprendizagem dos aspectos históricos, geográficos e culturais de praticamente todas as partes do planeta, resultando numa soma imprescindível de conhecimentos gerais.

A magia de aprender e de apreender o mundo através dos gibis dá-se pela simples e espontânea utilização do encanto e do prazer. Mas o sistema educacional, pelo contrário, continua dissociando esses dois vitais itens da construção do saber.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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