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1 – Domingo da surpreendente lógica da Cruz
Lc 14,25-33

“Só Pra Contrariar”, é o nome de um famoso conjunto de pagode, que, por acaso nos poderia vir à mente, ao sermos surpreendidos pelas palavras de Jesus dirigidas à multidão que ia atrás dele.

A expressão semítica, que não conhece os matizes de uma linguagem diferenciada, polida, sutil, nos soa estarrecedora: “odiar”!

A versão brasileira traduz de maneira mais digerível por “preferir”… É como se ele não quisesse deixar ninguém iludido…

É como se dissesse para todo mundo: “A caminho de Jerusalém, saibam todos e todas que eu estou indo ao encontro da cruz!… Vou dar a minha vida pela causa que abracei… Quem topar a parada, venha comigo!… Comigo não tem conversa mole… Ou comunga da minha opção, na frente de tudo mais, ‘odiando’ a sua própria vida, ou não dá para ser meu discípulo… E estamos conversados!”… E as duas historinhas que, a seguir, ele conta, são apenas para ilustrar esta estranha lógica do Reino por ele anunciado: quem vai construir ou guerrear, primeiro calcula sobre o que tem, em termos de meios ou soldados… Mas, para ser discípulo de Jesus, a gente calcula ao contrário, isto é, sobre a nossa capacidade de renunciar a tudo quanto tem.

Feita esta conta, a gente poderá ou não cantar o canto da liberdade cristã, para a qual “o Cristo no libertou” (Gl 5,1).

Que contas terão feito ou irão fazer Deputados e Senadores que votaram ou irão votar pela “Reforma da Previdência”?
Terão pensado ou irão pensar no bem maior do povo brasileiro, dos segmentos mais precisados, da Classe Trabalhadora, dos oprimidos pelo sistema capitalista?… Ontem, Dia da Pátria, muita gente por este Brasil saiu às ruas para dar o GRITO DOS EXCLUÍDOS E EXCLUÍDAS, clamando  por Vida e Dignidade! Você, que costuma fazer o Sinal da Cruz, estava onde, estava com quem?… Com o povo que grita pelos seus direitos ou com os que votam contra o povo?… Com quem dá a vida pela causa da Vida ou com quem crucifica o Cristo, hoje, na pessoa do povo empobrecido…?

 O Brasil cava, de novo, o fosso social que o caracterizou. Em dois anos, quase 2 milhões de indivíduos rumaram para a pobreza extrema

Após uma década de uma redução jamais vista na desigualdade, o Brasil cava, de novo, o fosso social que sempre caracterizou a sua história. Em dois anos, quase 2 milhões de indivíduos passaram a enfrentar o drama do desemprego. Segundo dados do IBGE, aqueles que vivem abaixo da linha de pobreza extrema, cujos ganhos não passam do equivalente a 7 reais diários, saltaram de 13,5 milhões em 2016 para 15,2 milhões no ano seguinte. Se consideradas as famílias que vivem com menos de 406 reais por mês, o total subiu de 53,7 milhões para 55,4 milhões. Este é o contingente de miseráveis lançados à própria sorte em um país que optou por desmantelar as tênues redes de proteção social desde o impeachment de Dilma Rousseff.

​Melhor para a porção abastada do Brasil. Um estudo publicado em junho pelo Instituto Brasileiro de Economia, ligado à Fundação Getúlio Vargas, mostra que nos últimos três anos o desemprego arrasou os ganhos dos mais pobres e ampliou a desigualdade no mercado de trabalho. De lá para cá, a renda dos 10% mais ricos cresceu 3,3%. Já a fatia mais vulnerável da população amarga uma perda acumulada de mais de 20%.

Seria interessante que os grupos, que durante este mês vão estudar a 1ª. Carta de João, se perguntassem: que luz esta Carta nos traz para esta situação?… Este texto bíblico nos inspira a fazer o quê, pra enfrentarmos esta realidade e mudar este cenário de horror?… VER – JULGAR – E- AGIR é o nosso jeito de crer e de ser cristão(ã).

“Menos do que isto não é fé, é superstição” ou enganação religiosa, coisa que Jesus tanto combateu.

2 – Domingo do prazer de acolher quem volta
Lc 15,1-32

No reino da hipocrisia, impera quem consegue salvar as aparências.

E essa “gente de bem” se dá até o direito de desprezar e excluir todos aqueles e aquelas que não conseguem esconder seus erros, suas “mancadas”, até porque nem cuidam de mascarar sua “cara suja”…

No seu caminho, Jesus prefere encontrar-se muito mais com essa gente, tachada de tudo quanto não presta. Em seu meio, ele se sente bem à vontade… E para os primeiros, os “acima de qualquer suspeita”, e mesmo para as pessoas direitas e sinceras, mas que se negam a compreender os que erram, Jesus hoje conta mais três historinhas…

Todas três, com um desfecho feliz, falam da alegria do coração de Deus, o Pai, quando alguém do meio dessa gente errada e desqualificada se toca, e encontra o caminho da volta, da mudança sincera de vida, da vida nova! Essa alegria de Deus, seu Pai, Jesus, com certeza, gostaria de compartilhá-la com a gente.

Se temos sido uma comunidade acolhedora, em cuja porta, os que erram não se acanham de bater… se o nosso olhar tem inspirado confiança e a nossa mão estendida tem sido capaz de levantar quem se afogava na lama… a nossa celebração, o nosso canto, com certeza, refletirão a alegria da misericórdia de Deus, o Pai, e dos seus filhos e filhas, contentes em poderem acolher o irmão, a irmã que volta. E como é bom viver numa Igreja que tem como Bispo de Roma, a serviço da Comunhão de toda a Igreja, o Papa da Misericórdia!

A semana que passou nos deixou um saldo imenso de inquietações: índices altíssimos de homicídios e de suicídios em nosso país, especialmente, de mulheres, de jovens, de negros, de indígenas… Nunca foi tanta a violência policial! Igrejas, Cristãs e Cristãos, “em nome de Jesus”, onde estamos, com quem estamos, o que falamos e fazemos?… Temos sido uma presença da misericórdia, ou muito mais  do preconceito e da intolerância?…

PAPA FRANCISCO FALA à CLASSE TRABALHADORA

 <<Deus quer que no centro do mundo não esteja o ídolo, mas o homem, o homem e a mulher, que levam em frente, com o próprio trabalho, o mundo. Mas agora, neste sistema sem ética, ao centro está um ídolo e o mundo tornou-se idólatra deste ‘deus-dinheiro’. Manda o dinheiro! Manda o dinheiro! Comanda todas as coisas que servem a ele, a este ídolo. E o que acontece? Para defender este ídolo todos se juntam no centro e caem as extremidades, caem os anciãos, porque neste mundo, não existe lugar para eles! Alguns chamam esta prática de “eutanasia disfarçada”, de não cuidar deles, de não levá-los em conta… “Sim, deixem-nos para lá…”. E caem os jovens que não encontram o trabalho e a dignidade. Mas pensa, num mundo onde os jovens – duas gerações de jovens – não têm trabalho. Não tem futuro este mundo. Por que? Porque eles não têm dignidade! É difícil ter dignidade sem trabalho. Este é o sofrimento de vocês aqui. Esta é a oração que vocês de lá gritavam: “Trabalho, Trabalho, Trabalho!”. É uma oração necessária. Trabalho quer dizer dignidade, trabalho quer dizer levar o pão para casa, trabalho quer dizer amar! Para defender este sistema econômico idolátrico, se instaura a ‘cultura do descartável’: se descartam os avós e se descartam os jovens. E nós devemos dizer não a esta cultura do descartável. Nós devemos dizer: “Queremos um sistema justo! Um sistema que nos faça seguir em frente, todos”. Devemos dizer: “Nós não queremos este sistema econômico globalizado, que nos faz tanto mal!”. No centro, deve estar o homem e a mulher, como Deus quer, e não o dinheiro!>>
 Cagliari, Itália, 22.09.2013

Obs: REGINALDO VELOSO, presbítero leigo das CEBs (essa é minha condição eclesiástica atual, o que me deixa particularmente feliz)
– Membro do MTC (Equipe Maria Lorena – Recife)  (terminou meu “mandato” como “Assistente Regional”)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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