Padre Beto 15 de setembro de 2019

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Considerado um retardado pela mãe e pela irmã, Grim, um humilde e reprimido lixeiro, sente que sua vida nunca mudará. Mas com a chegada de Henry Fool, o pobre homem avista uma luz no fim do túnel. Fool é agora hóspede de Grim. Fool, quase um alcoólatra, pervertido e fumante compulsivo, além de muito egocêntrico, sonha em ver seu livro “Confissões” entrar para a história da literatura. Com o tempo Henry passa a incentivar Simon a escrever um poema épico. Os críticos consideram a obra genial, e o lixeiro sai do anonimato. Em “As Confissões de Henry Fool”, de Hal Hartley, Grim descobre a fé em seu talento reconstruindo sua vida.

A nossa vida é uma construção. Nós somos primeiro construídos, construídos pela nossa carga hereditária, pelo meio ambiente, pela educação que recebemos de nossos pais, pela escola que frequentamos, pelas experiências que vivenciamos nos primeiros anos de vida. A partir de um determinado momento, começamos a nos transformar de construídos para construtores de nossa vida. À medida que vamos fazendo nossas próprias escolhas e tomando atitudes próprias, vamos construindo nosso ser, nossa existência e modificando nosso meio ambiente. A letra “C” de construção representa visualmente este início. Ela já existe, mas é uma letra aberta. O que irá se desenvolver a partir desta abertura depende de nós e de nossa interação com as situações da vida. A força que nos move para a transformação de nosso ser e nos faz assumir a direção de nossa vida é o que chamamos de fé. Justamente este tema é trabalhado na passagem de Mc 10, 46-52. Nela encontramos duas posições importantíssimas. Em primeiro lugar, o cego Bartimeu grita para Jesus. Bartimeu não se acomoda em sua situação de cego e mendigo, ele vai além. Em seu grito está a força que o move para uma transformação. Bartimeu poderia se acomodar com justificativas do tipo: este é o meu destino, Deus quis assim… Mas não, Bartimeu grita. Em segundo lugar encontramos Jesus que atende à manifestação de Bartimeu e proclama algo fundamental: “Vai, a tua fé te curou!” Jesus poderia ter dito: “Vai, eu te curei, acredite em mim!” Jesus não se coloca acima de Bartimeu, mas procura curar a sua cegueira existencial. Procura esclarecer que a força que lhe curou foi sua fé, sua vontade profunda de mudança.

A fé é algo que nos move para a transcendência, para um movimento que nos levar a ir além do que somos. Porém, a fé é extremamente perigosa, pois ela pode estar depositada em qualquer conteúdo, seja este bom ou ruim. Hitler, por exemplo, foi um homem de muita fé. Tanta fé em sua ânsia de poder que acabou sendo um perfeito monstro. Os mulçumanos que se mataram no famoso 11 de setembro ao se atirarem nas torres gêmeas mostraram muita fé. E até hoje existem pessoas que depositam sua fé em conteúdos alienantes que fazem com que elas vivenciem uma verdadeira fuga da realidade. Justamente por isso que ganhamos Jesus como exemplo. Nele encontramos um conteúdo universal que direciona a nossa fé para a construção de vida para todos. É necessário compreender que direcionar a fé através deste conteúdo é possuir atitudes concretas de vida e através destas nos aproximamos da convivência de Deus. Nem todo aquele que diz “senhor, senhor” entrará no Reino dos Céus. A convivência com Deus deve nos fazer ver com mais profundidade o que deve ser modificado em nossa vida individual e social. A dialética do cristão é constante interação entre atitudes concretas e a convivência de Deus alimentando nossa fé na construção de um mundo mais justo e mais fraterno.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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