Padre Beto 1 de setembro de 2019

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Um filme extremamente original, realizado pelos estreantes irmãos gêmeos Polish. Os gêmeos interpretam siameses, ou seja, unidos no nascimento, com três pernas. Quando uma jovem prostituta fica amiga deles, um dos irmãos, o mais fraco, já está doente e pode morrer em breve. É um dilema para o mais forte, o que acaba levantando questões sobre ambiguidade, esquizofrenia, que concernem a nós todos, mesmo os ditos normais. Todos nós temos dualidades contra as quais lutamos e o filme “Amor em Dobro”, do diretor Michael Polish, simplesmente visualiza isso na figura dos irmãos que estão sempre juntos, obrigatoriamente, mesmo incestuosamente.

O nosso grande problema não é morte, mas o medo da morte. O medo da morte surge da dificuldade de lidarmos com a vida. Justamente sobre este tema nos fala Mc 10, 35-45. Nesta passagem encontramos a dualidade entre poder e servir. Tiago e João desejam postos de poder. Jesus lhes fala de servir até a morte e depois cita os governantes que tiranizam as nações e nos fala da postura essencial do filho de Deus: o servir. Estas duas expressões, porém, precisam ser muito bem compreendidas. Nós precisamos nos libertar da idéia maniqueísta que divide poderosos e explorados. O poder em si é uma ilusão. O que existe são relações de poder. Estas são fatais e sempre existirão. A questão é como nos comportamos nas relações de poder e o que constrói estas relações. O poder não se define em dizer não, impor limites ou um castigo. Muitas vezes, quem assim age está mais servindo do que exercendo um poder. O que temos que detectar é onde está o foco do poder. O foco do poder está sempre onde se produz, se constrói alguma coisa. Por exemplo, nós temos uma política educacional no Estado. Esta consiste em pagar mal nossos professores e manter nossas escolas como enormes creches. Esta política educacional é um poder, pois produz um determinado ser humano: jovens acríticos, despolitizados e sem a capacidade de se organizarem para algum objetivo. O poder é sempre uma força que constrói. A questão é o que ele constrói. O poder nem sempre é sinônimo de postos de poder. Um prefeito pode assumir a administração de uma cidade simplesmente pela sede de poder, mas sem nenhum planejamento concreto para a cidade. Desta forma, ele terá um posto de poder, mas facilmente será influenciado por grupos econômicos que o manipularão para seus próprios interesses.

Como o poder é algo perspicaz que precisa ser analisado com inteligência, da mesma forma é o servir. O servir é extremamente perigoso. Servir pode se tornar facilmente uma exploração. Ao servir nós podemos estar mimando e estragando o outro, transformando o outro em um explorador. Muitos pais realizam tudo pelos filhos sem notarem que estão sendo explorados por estes e que seus filhos serão exploradores de outras pessoas também. O servir pode mascarar um interesse de manipulação e dominação. Se isso acontece, nós servimos ao outro, mas esperamos algo em troca. Atrás do servir vem uma cobrança, uma expectativa que, muitas vezes, é frustrada e acaba se transformando em ódio àquele que servimos. O verdadeiro servir deve ter um único objetivo: o bem-estar de todos. O servir não pode ser romantizado. Ao fazermos filantropia acreditamos estar servindo aos pobres. Justamente é o que o sistema deseja que façamos. Enquanto houver igrejas e entidades que assistem aos mais pobres, o Estado se acomoda e desvia o dinheiro de nossos impostos para outros fins. Um verdadeiro serviço ao mais necessitado deveria ser a cobrança do Estado fazer sua parte.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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