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Fui ao cinema com minha irmã assistir a mais nova versão do desenho Snoopy e Charlie Brown. Sem vergonha de dizer, adorei o filme. Para mim, foi uma mistura de nostalgia, novidade e lição de vida.

A vida de Charlie Brown não é nada fácil. Com uma má sorte de dar raiva em qualquer pessoa, mesmo assim esse insistente menino tem um coração esperançoso. Charlie é inseguro ( com todo o direito de ser), e raramente é respeitado por alguém na escola onde estuda, sofrendo bullying diariamente. Ele chama a atenção de todos por suas trapalhadas e fracassos, não sobrando espaço para mostrar suas potencialidades.

Próximo das férias de inverno, a vida de Charlie Brown e sua turma sofre uma mudança com a chegada na cidade de uma garotinha de cabelo vermelho. Charlie Brown logo se encanta pela jovem e tenta lutar contra sua timidez e sua baixa autoestima para falar com ela. Ao mesmo tempo, Snoopy, seu cachorro/ melhor amigo, encontra uma máquina de escrever e começa a imaginar uma história pra lá de fantasiosa e heróica.                 (http://www.adorocinema.com/filmes/filme-214004/).

Snoop tenta algumas vezes ajudar seu amigo Charlie a se declarar para sua amada mas, como sempre, as coisas não saem conforme o planejado e o apaixonado Charlie não consegue dizer nem um um simples “oi” para a nova aluna.

O que mais me encanta na história desse menino da cabeça arredondada criado pelo cartunista americano Charles Monroe Schulz, é a forte postura ética que seu personagem carrega dentro de si.

Em uma parte do filme, a escola promove um show de talentos para os alunos se apresentarem. Charlie se dedica e ensaia um truque de mágica como trunfo para finalmente ser reconhecido na escola e chamar a atenção da menina ruiva. Mas, Charlie, ao ver o número da sua irmã (que se apresentou antes dele), indo por água abaixo na frente de todos, decide abrir mão da sua apresentação para salvar o número da irmã, onde ela consegue, com com a ajuda do irmão, levar o prêmio para casa.

Em outra situação inesperada na avaliação mais importante da escola, Charlie assina sem querer seu nome numa prova que não é dele. E o resultado é mais inesperado ainda: 100% de acerto. Então do inferno ao céu, Charlie Brown se torna a pessoa mais popular da escola, onde todos querem ser igual a ele e todas as garotas, como num passe de mágica, começam a enxergá-lo. É marcado então um dia, com todos os alunos da escola, para congratular Charlie devido a façanha nunca alcançada por ninguém. Charlie, ao receber a prova, descobre que a mesma não é dele. Em uma crise de consciência entre chamar a atenção da menina ruiva e ser honesto com todos, mais uma vez ele escolhe o certo. Retrata-se na frente de todos mesmo sabendo que voltará a ser o mesmo menino invisível e inseguro de sempre. Mesmo que triste, preferiu negar a fama. Escolheu ser ético, optou por ser ele mesmo.

Em um terceiro momento, Charlie e a menina ruiva foram sorteados para fazerem dupla em um trabalho. Ele lê o grosso livro Guerra e Paz, de Tolstoi para impressionar a menina ruiva fazendo todo o resumo desse clássico da literatura sozinho, mas também para ajudá-la, pois sua amada estava ocupada cuidando de sua tia doente.

Confesso que se pudesse aconselhar Charlie, ficaria tentado a dizer para ele ser menos “radical” em algumas escolhas da sua vida, podendo às vezes, dar uma “escorregada ética”. Acho que é meu lado corrupto e oportunista mandando ele se dar bem. Afinal,honestamente, quem não quer fazer sucesso? Quem não quer ser notado?

Não sem sofrimento, temos a todo dia que escolher. E o “não escolher” já é uma escolha. Charlie nos ensina que nossocompromisso inicial se dá entre duas pessoas: eu, comigo mesmo.Entre meus instintos, minha reputação e minha consciência. Entre o que querem que eu seja e o que eu sou.

Não importa se alguém não está vendo o que vou fazer, pois quem tem uma visão ética da vida basta que ele próprio saiba. Nesse sentido, fica difícil de desobedecer o que a sua consciência manda. É por isso que de uma forma atrapalhada, Charlie consegue ajudar as pessoas. Mesmo que ele se “dê mal”, pois não é todo mundo que enxerga o mundo com suas lentes. Quem dera se assim fosse.

Felizmente, ao final do filme, a professora pergunta quem quer fazer trabalho com o Charlie. Ninguém da sua classe se prenuncia, exceto a única pessoa que ele queria que fizesse dupla com ele: A bela menina ruiva. Charlie, finalmente consegue falar com ela e pergunta: Você quis fazer esse trabalho comigo por pena? Compaixão? E ela responde: Eu vi tudo o que você fez. Ajudou sua irmã, falou a verdade sobre a prova e se esforçou para me ajudar com o resumo do livro. “Você é uma menino bom Charlie! É muito especial. Por isso quis fazer o trabalho com você”.

Muitas vezes sofrermos e de certa forma nos sentimos estranhos por fazer algo correto em uma sociedade onde a maioria vê o outro apenas como obstáculo ou um concorrente. Tem muita gente querendo “se dar bem” às custas ou nas costas dos outros.

Mas também, tem sempre uns poucos por aí, que pensam como você, veem a forma bonita e ética como consegue viver a sua vida. Alguns te admiram e se espelham em suas atitudes mesmo que discretamente, sem você saber.

Quem sabe uma dessas pessoas não poderá ser um dia, a sua menina ruiva? Sonho com o dia que digamos em uma só voz: Somos todos Charlie Brown.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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