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Subiu para o último piso e armou a rede mais ou menos no lugar de praxe. O barco parecia a mesma lotação dos domingos anteriores. A cada lado da rede, um espaço entre escápulas vazio. Parecia que teria uma noite em que pudesse esticar as pernas e desta forma ter um pouquinho a mais de sono. Se por um lado, o vazio entre os vizinhos que favoreceria a um sono espreguiçado, o mesmo não aconteceu com o silêncio da madrugada. O ronco lhe roubou o sono…
O barco saiu no barulho habitual do motor. Minutos navegados e se ouviu um desacelerar repentino. O silêncio a essa hora só foi rompido pelas conversas altas vindas do bar e pelos sons dos celulares de gente que ouvi música em público como se estivesse na sala de casa.
Retomada a velocidade o ronco se fez novamente. O banzeiro de inverno produzia ondulações no rio que, concomitantemente, embalavam as redes de encontro umas às outras. Mas entre sono, sonho e insônia logo se deu conta que o barco atracara.
O ronco do motor cessou. Poderia dormir o restante da madrugada. Mas de forma aterrorizante o ronco mais grave pareceu tomar conta de todo o convés. Embrulhado dos pés a cabeça assustou-se: “valei-me nossa senhora”. Refletiu consigo.
O ronco se tornava cada vez mais alto, estridente. Espalhava-se pelos punhos da rede fazendo caminho pelas que estavam mais próximas. Era um ronco assustador. Lembrou-se do urro do mapinguari conforme as lendas narradas. Era alto, agonizante, estridente, incômodo… era um ronco de gente.
Obs: O autor é poeta e fotógrafo amador. Trabalha na UFOPA / campus de Óbidos.