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Tenho ouvido muito falar em “Universidade de Excelência” nos primeiros debates entre as chapas que disputam as eleições para a Reitoria da UFPE nos dias 29 de maio e 2 de junho próximos. Fico me perguntando: o que é essa Universidade? O que é ser uma Universidade “excelente”? Em função do que pode ser chamada assim? Ter seus docentes / pesquisadores publicando cada vez mais em revistas editadas em outros países? Ter cada vez mais trabalhos desses servidores apresentados em Congressos sediados fora do país?
Tais conquistas seriam metas / fins em si mesmos? Quanto de excelência poderá haver numa Universidade a partir desses paradigmas? Quanto do mesmo poderá haver numa Universidade que investiga aspectos cruciais da realidade brasileira e apresenta crítica, diagnóstico de suas causas e engrenagens e propostas para sua superação? Publicar isso aqui ou fora daqui é meio ou fim em si mesmo? Dar respostas aos problemas do país é meio para publicações ou está entre os mais importantes fins da Universidade?
Que direção queremos para a UFPE a partir de junho? Como deverá se conduzir acerca dessas questões? Penso num significativo conjunto de temas que exigem da Universidade olhares, diagnósticos e respostas: a questão tributária e o financiamento do estado com justiça fiscal, a realidade urbana e a sustentabilidade de nossas cidades, a saúde como direito universal, o campo, a agricultura familiar e o agronegócio, a estabilidade monetária, a partilha da riqueza e o pleno emprego, a produção social da riqueza e o enfrentamento das desigualdades, o meio ambiente e o crescimento econômico, a cidadania, a violência e a ação do estado, a combinação da educação básica com o ensino superior públicos, gratuitos e de qualidade versus a expansão do privado na educação.
Em 21 anos de exercício de mandatos parlamentares vi muitos desses temas postos à mesa das decisões políticas governamentais, com embates e conflitos de interesses subjacentes a cada um, mas nem sempre vi a Universidade intervindo no debate dessas questões. Não seria esse dever para as IFES um parâmetro para aferirmos sua “excelência” para a sociedade, com tudo que derivaria disso (orientações, dissertações, teses, publicações)? Quando ouço falar na necessidade de publicarmos mais em revistas “internacionais” me pergunto se as nossas também não seriam internacionais, quando olhadas de fora para dentro? E haveria, de fato, uma revista “internacional”? Ou hão revistas de diferentes origens editadas em distintos estados nacionais?
Pode uma Universidade Pública dissociar-se ou afastar-se da construção do espaço público de tomadas de decisões acerca dos mesmos campos de conhecimento por meio dos quais estrutura seus centros e departamentos, bem como das distintas linhas de pesquisa de sua pós? Creio que não. Por isso me preocupa que o centro do debate, para algumas candidaturas postas para a Reitoria da UFPE, esteja sendo muito mais o universo das questões administrativas internas e de “internacionalização” da UFPE (o que seria isso mesmo?) do que considerar tais elementos, mas tendo como efetivo divisor de águas e ponto de partida entre as propostas o adequado diagnóstico acerca do que está acontecendo com a educação básica e o ensino superior brasileiros nas últimas décadas no país. A partir disso, que propostas teremos para uma Universidade efetivamente brasileira, capaz de conjugar o saber que produz com estratégias que incidam sobre o poder de decisão do Estado e da sociedade acerca das políticas governamentais em curso há meses, anos, décadas?
Afinal, será possível aceitar uma UFPE de “excelência”, “internacionalizada”, porém de costas para o que se passa no país e pela BR 101 que lhe corta o campus?
Obs: O autor é professor e Mestre em Educação pela UFPE
Foi Deputado Federal 2003-2014.
Criador e 1º. Coordenador da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção (2004)
Na Câmara Federal foi autor da PEC 162, propondo o Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano.