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Meus queridos amigos

Quando digo à sombra que sem ela a própria luz perderia muito de seu encanto, quando afirmo que amo as noites negras que carregam, no seio, as madrugadas, quando sustento que aprendo humildade com a sombra — tão dócil, tão sem travo, tão simples em sua vocação de segundo — a sombra sempre imagina que falo assim para encorajá-la… Sabem o que eu chamo de vocação de segundo?

 É o caso, por exemplo, de São João Batista. Claro que foi honra extraordinária ser escolhido pelo Pai para preparar os caminhos para o Messias, para o Filho de Deus, que se fez homem para salvar-nos…

Mas, de qualquer modo, embora às margens do Jordão, com o seu batismo de penitência, tenha vivido dias de esplendor, ele mesmo declarou que vinha apenas anunciar a vinda de alguém de quem ele não merecera sequer desatar as correias das sandálias. Seu testemunho do Messias mostrou o Cordeiro de Deus e apagou-se. Sumiu, uma vez cumprida a sua missão.

Vocação do segundo foi também a de São José. É verdade que foi glória imensa ser, junto ao Filho de Deus, o representante direto do Pai. É verdade que foi escolhido pelo Pai para protetor de Nossa Senhora e do Menino Deus. Mas, na Casa de Nazaré, embora ele tivesse o papel de chefe de família e de pai, era o menor dos três.

Quem se sentir na vida em missão de segundo ou de segunda, viva, feliz, sua missão, tendo no pensamento e no coração exemplos como o de São José e de São João Batista. Há tias que se apegam tanto aos sobrinhos e a eles se dedicam tanto que, de certo modo, 308 são mais mães do que as próprias mães das crianças… Mas mãe é mãe.

E tia é tipicamente vocação de segunda. Há chefes de serviço, diretores de repartição, ministros, chefes de Estado que têm colaboradores de absoluta confiança e de enorme competência.

Acompanham os assuntos, vivem os problemas. Preparam relatórios, discursos, mensagens, que causam a melhor impressão. Os aplausos, os louvores são para o número um, para o primeiro. O colaborador, com vocação de segundo, que se alegre na sombra, que vibre por tabela… Servir sem subserviência, longe de ser desonra é imitação de Cristo que declarou, abertamente, que não veio para ser servido, mas para servir! Sábado, 16.5.1981

Obs: *Mais uma das crônicas escritas por Dom Helder Camara para o seu programa de rádio UM OLHAR SOBRE A CIDADE, exibido na rádio Olinda às 06h55 de 01 de abril de 1974 a 22 de abril e 1983. Está crônica está publicada no livro “Meus Queridos Amigos”, que reúne 200, das centenas de crônicas lidas por Dom Helder ao longo dos nove anos de duração do programa. 

 Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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