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1 – Domingo da riqueza do Reino
Lc 12,13-21
Quantas vezes, no correr de nossa existência, somos surpreendidos por desafios que testam nossas convicções, põem a claro os valores que realmente nos movem, desmascaram nossa hipocrisia?…
Aliás, a bem dizer, isso é coisa de todo dia e de todo instante. Mas é, sobretudo, quando se trata de “dinheiro”, de posses, de riquezas, de oportunidades de ganhar ou de perder, que se perde toda a compostura ou cerimônia, e as pessoas partem para o vale-tudo…
Os mais “jeitosos” ou astutos, sequer duvidam de apelar para a religião e tentam revestir sua cobiça e ambição com aparências de justiça, de piedade e devoção, apelando, quem sabe, para a Bíblia, o Evangelho, procurando, habilmente, fazer passar sua ganância como coisa de Deus.
Jesus não só não se passa para fazer parte desse jogo, como deixa bem claro que a única riqueza que vale e que pode deixar nossos corações verdadeiramente sossegados é a que se compartilha, a que atende ao bem comum, a que vai ao encontro dos mais precisados.
Somente assim se entesoura para o Reino de Deus. Somente os corações livres das amarras da avareza e das estreitezas do egoísmo é que sentirão o prazer de sentar-se à Mesa dos irmãos e irmãs e cantar o canto da Irmandade que nos faz filhos e filhas do mesmo Pai, irmãos e irmãs em Jesus, na unidade do Espírito Santo.
Papa Francisco que o diga, e, sobretudo a Juventude que o escute e se faça portadora deste recado!
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Quando o “dinheiro é a mola do mundo”, e “a mão invisível” do Mercado é o que move e rege a Humanidade…
Quando o valor supremo é o lucro, a qualquer custo, a qualquer preço…
Quando os únicos verbos a se conjugar é “ter” e “consumir”…
As mentes se escurecem e os corações se estreitam, o mundo se torna pequeno para tanta ambição…
A Natureza não dá conta de satisfazer a tanto consumismo, e a maior parte da Humanidade não tem acesso ao banquete do progresso…
A bomba da miséria explode, os pobres não dormem com fome e a fome dos pobres não deixa os ricos dormirem.
2 – Domingo da feliz prontidão, da feliz vigilância!
Lc 12,32-48
Desde o Advento que Lucas nos tem tomado pela mão e nos colocado no “Caminho” de Jesus, a caminho com Jesus, no caminho que é JESUS! E é um caminho de “felicidade” …
As Bem-Aventuranças de Jesus, hoje, são para os que não se sentem mal, não se deprimem por serem poucos neste Caminho… É o Caminho dos santos e justos que, desde sempre, assumiram a aventura da FÉ, tão elogiada no Livro da Sabedoria e na Carta aos Hebreus…
O caminho do desprendimento e da prontidão, dos que sabem onde está o seu tesouro e colocam todo o seu coração no Reino sonhado e buscado. “Felizes”, na boca de Jesus, era a palavra que ele tinha para dar os “parabéns” aos que estão permanentemente em vigilância, e não perdem oportunidade de assumir responsável, generosa e prazerosamente os serviços todos que a cada um, a cada uma, são confiados pela História e por Deus, os cuidados para com os demais, lá onde a vida nos coloca: família, trabalho profissional, comunidade humana, comunidade eclesial, movimentos sociais, pastorais etc., no contexto de um planeta ameaçado e pedindo socorro.
Sem esquecer que “a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido”, acolhendo serenamente, “da mesma forma, bens e perigos, já antecipadamente entoando os hinos de seus pais” e mães na fé, “sem perder a ternura jamais”!
O testemunho de Papa Francisco nos ilustra e nos aponta este caminho.
Nesse espírito de VIGILÂNCIA, em dias de Jogos Pan-americanos, a caminho das Olimpíadas, paremos para uma reflexão sobre algo que apaixona e faz delirar multidões: o ESPORTE! Quem teria a coragem de colocar-se na contramão, e questionar aquilo que parece ser a essência da experiência esportiva: o espírito de competição?… Esta experiência simbólica de ganhar às custas da derrota dos demais, estará alimentando em nós a chama da SOLIDARIEDADE? …
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Em comunhão com Jesus, Que nos ali–menta com o Pão e o Vinho, sacramento da sua vida doada por amor, talvez precisemos parar um instante e pensar:
– essa coisa do jogar para ganhar e conseguir a taça de campeão à custa da derrota dos demais é tão “inocente” e positiva assim? …
– Não seria a mais perversa invenção do “gênio” ocidental: uma competição simbólica a celebrar e alimentar a “mística” mesma do Sistema Capitalista, que contabiliza uma legião infinita de “derrotados”, um sem número de vítimas das guerras, da migração, da violência rural e urbana de cada dia? … Se alguém tem dúvida, detendo-se apenas no campo mesmo do esporte, pense aonde chegamos com as “torcidas organizadas” … Seria falta de “espírito esportivo” ou consequência dele? …
3 – SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA MÃE DO SENHOR
Lc 1,39-55
Desde o início da Idade Média, a liturgia celebrava a fé da Igreja na Assunção de Maria. Mas foi no século passado, em 1950, que o papa Pio XII proclamou solenemente que “Maria, a Imaculada Mãe de Deus, havendo terminado o curso de sua vida terrestre, foi elevada, em corpo e alma, à glória celeste”.
E Maria é ícone e modelo da Igreja. Com Maria, começa a Igreja. Em Maria, a Igreja já entrou na glória do céu!
Esta festa nos convida a trabalhar pela harmonia entre o corpo e a alma, entre as realidades materiais, temporais, e os valores espirituais, eternos, para que aconteça o que, cada dia, pedimos ao Pai, assim como o Filho de Deus e de Maria nos ensinou: “Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra, como no céu!”. Pois, na perspectiva de uma vida sem fim, à luz da Assunção de Maria, o que está em questão é um Ser Humano Novo, Homens e Mulheres, unidos na construção de um Mundo Novo, de dignidade, liberdade, justiça e Paz!
A conjuntura destes dias nos coloca como “sinal dos tempos” a estupidez de um ser humano elevado à presidência da República! “Até quando?” É a pergunta que todos e todas nos fazemos, diante de um país destroçado. E, especialmente, diante de uma Classe Trabalhadora, dizimada pelo desemprego, pela destruição de Direitos conquistados há décadas, pelos ultrajes a sua Dignidade. As Manifestações pela Educação e contra a Reforma da Previdência, em todo o País, a Marcha das Mulheres Indígenas e a Marcha das Margaridas em Brasília, são mais que um sinal de Esperança: são um chamado a todos e todas que ainda dormem na inconsciência ou no medo… São o começo da virada. A vitória da Oposição de Esquerda nas prévias da Argentina demonstram que a reversão é possível! Nosso compromisso, hoje, é de levarmos adiante uma luta que só cessará quando virmos realizado o sonho de MARIA e de todos os oprimidos da terra: ver os opressores derrubados dos seus tronos e os humilhados, de pé… ver os ricos de mãos vazias e os famintos saciados… a TERRA PROMETIDA, acontecendo! Tem tudo a ver com a ASSUNÇÃO!
Nossa devoção à Mãe do Senhor precisa evo-luir da simples busca de proteção para uma busca sempre mais exigente de inspiração: MARIA, ícone da Igreja, Espelho de Justiça, como canta a ladainha, quer ser, antes de tudo, olhada e assumida como referência primeira de uma gente que escuta a Palavra de Deus e a põe em prática. Precisamos aprender com ela a ser discípulas/os de JESUS, missionários e missionárias a serviço do Evangelho do Reino, para que todos, todas, especialmente os mais precisados e precisadas, tenham Vida em plenitude.
Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965)