Padre Beto 15 de agosto de 2019

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Maria Callas vive, aos 53 anos, reclusa em seu apartamento. Após grande insistência, seu amigo Larry Kelly consegue vê-la. Achando-a muito abatida, Larry faz à Callas um convite inusitado: que seja a estrela de um especial para a TV, interpretando uma de suas famosas peças. Por causa do desgaste de sua voz atual Larry quer que Callas seja dublada no especial. Na verdade, o Filme de Franco Zeffirelli “Callas Forever” não pretende ser uma parte da biografia da cantora, mas uma reflexão sobre a autenticidade em tudo o que somos e fazemos.

Em Mc 10, 17-30 Pedro questiona Jesus: “Eis que deixamos tudo para segui-lo”. A intenção de Pedro é clara: eles haviam investido em Jesus, acreditado em sua proposta de vida, mas o ganhariam em troca? O questionamento de Pedro demonstra a sua falta de compreensão sobre a mensagem de Jesus e uma posição interesseira frente a seu mestre. A resposta de Jesus é também objetiva: vocês receberão cem vezes mais do que possuem agora e também a vida eterna. Jesus não está falando de uma recompensa, mas de uma simples consequência. Quem assume a mensagem de Jesus, que possui em seu centro o amor à vida e ao próximo, deixa de ter simplesmente os pais e filhos convencionais, a família e amigos estabelecidos pela sociedade, mas começa a ver-se membro de uma única família: a humanidade. Qualquer pessoa a minha frente se torna minha mãe, meu pai, filho ou irmão. Esta é a consequência do incorporar a mensagem de Jesus. Na mesma passagem encontramos o jovem rico que, apesar de querer a vida eterna, é incapaz de doar tudo que possui e seguir Jesus. Diante do jovem Jesus afirma: “Como é difícil para os ricos entrar no reino de Deus!”. O que nos chama a atenção na passagem é o espanto dos discípulos: “Então, quem pode ser salvo?” Nós entendemos a postura dos seguidores de Jesus quando compreendemos que, na época, havia o predomínio de uma teologia que pregava a riqueza como benção de Deus. Quanto mais rico a pessoa fosse, mais próxima ela estaria de Deus. O interessante é que em pleno século 21 esta teologia se encontra mais forte do que nunca. Muitas religiões se tornaram coletivos de indivíduos que buscam o sucesso individual. Jesus nunca pregou o sucesso individual, pelo contrário, ele convida o jovem rico a doar todos os seus bens não para sua comunidade de discípulos, mas aos pobres, e segui-lo. O que muitas igrejas fazem é incentivar as pessoas a fazer altos donativos à igreja em nome de Deus e em troca receberão o sucesso individual. Se podemos enxergar um sucesso na pregação de Jesus é um sucesso coletivo, no qual todos os seres humanos possam viver com dignidade. Este seria o inicio do reino de Deus. Para Jesus, nós estamos somente de passagem por aqui e, por isso, qualquer forma de apego é inútil, pois no final das contas deixaremos tudo para traz. O apego às coisas do mundo nos faz ter medo de perder o pouco que temos e assim deixamos de fazer o que deve ser feito e transformar o que deve ser transformado. O que conta nesta vida não é o que possuímos, mas se fazemos algo significativo para as próximas gerações. O que vai contar é se em nosso velório as pessoas boas irão lastimar a nossa partida, ou irão ter que admitir que já fomos tarde. Um prêmio será se as pessoas mesquinhas pensarem que já fomos tarde. Isso será a demonstração de que fizemos algo significativo, incomodamos os privilegiados e os exploradores de uma sociedade injusta.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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