Frei Adolfo Temme 1 de agosto de 2019

Onde tem pessoas morando juntos, sempre ficam devendo muita coisa uns aos outros. Isto se torna mais evidente quando convivem de perto. Pessoas que se amam, tambem podem ferir-se. Quanto mais perto se encontram, tanto mais as feridas podem se aprofundar. No começo tudo é fácil. Duas pessoas se encontram e se gostam. É como se abrissem uma conta em conjunto.

Todos dois depositam em seguida: Aqui uma flor ofertada, alí um cartão postal, aqui uma ajuda, alí uma palavra bondosa etc., tudo isto é depósito na conta dos dois. Em pouco tempo é uma reserva gorda. Pequenas retiradas, uma briga eventual, não perturbam. Porque ainda tem uma boa soma. E os números permanecem no positivo.

Isto pode mudar aos poucos: As decepções aumentam e com os  abusos diminue o esforço
de cada um. Todos dois depositam menos, mas continuam retirando o quanto podem. As amabilidades desaparecem e pequenas grosserias marcam o dia-a-dia. No lugar de atenção se vê distanciamento ou até castigo. Assim como antes uma bondade se respondia com outra bondade, agora uma ofensa se paga com outra ofensa. E um sentimento de desilusão se espalha.

Por algum tempo se vive assim, já que ainda há reservas. Mas finalmente a conta está no vermelho escuro. Chegou o limite; não há mas nada para retirar. O coração sente um calafrio.

Não há mais depósitos. Quando foi que se ouviu por último uma palavra amiga? Quando se viu um gesto delicado, quando se ofertou o último buquê de flor, quando teve o derradeiro jantar à luz de vela? Toda uma vida os dois ouviram falar de perdão e reconciliação, mas não praticam, nem vivem nem experimentam.

Diferente das regras do banco, diferente dos homens de terno preto e colarinho, a vida nos dá uma chance real ainda, a saber a chance de perdoar e a possibilidade de aprender a renovar esta conta falida. Podemos dar um crédito ao outro, podemos ir na frente com uma palavra amiga e com um gesto delicado, para assim pagar a própria divida.

Nesta Festa de Bodas de casamento desejo ao casal tudo de bom: sucesso, força de trabalhar, saúde, felicidade, bons amigos que dão sustento, e uma conta bem cheia no sentido de um futuro otimista.
Peter Lenz , empresário

Tradução e Comentário de  Adolfo Temme

O tal empresário ofertou esta mensagem a um casal na festa de Bodas de prata. A mensagem serve também para outros grupos que se comprometeram a viver em comunidade na vida religiosa para juntos construir o Reino de Deus.

A conta conjunta-espiritual e material-de pessoas consagradas, unidas no mesmo ideal, deveria ser bem grande. O interesse de um pelo carisma do outro seria um depósito contínuo para o crescimento de um Corpo Unido que evangeliza por si só. Infelizmente, a realidade não é assim. Há tempo todo mundo trabalha para si, abrindo sua conta particular, seguindo seu apostolado próprio.

Isto não quer dizer que deva continuar nesta situação. Como podemos reativar a conta comunitária?  Só pode funcionar com iniciativa própria de quem paga adiantado; de quem renuncia à realização particular, porque ainda acredita na força do conjunto. No Corpo Místico não pode haver organismo privado que seja independente do Único Coração.

Obs: O autor é Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrópolis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.    

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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