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Um acidente faz com que Paul, Jack e Cristina venham a se encontrar. O encontro inesperado se torna um verdadeiro teste de seus limites em relação ao amor e à vingança. A busca da redenção é o ponto central do belo roteiro de “21 Gramas” (Direção: Alejandro González Iñárritu).

Para Aristóteles o Bem Absoluto é a felicidade. Porém, esta deve ser alcançada no exercício firme e constante da virtude. Este exercício consiste na realização de nossa substância, ou, na linguagem aristotélica, de nossa ousía. A nossa substância é o conjunto de potencialidades que possuímos e podemos realizar em nossa existência atingindo assim um bom grau de satisfação com relação ao que somos e ao que fazemos. A prática da virtude é a dinâmica de desenvolvimento da matéria com a forma. A forma é a expansão da matéria e esta última é todo o material que disponho e no qual vou realizar minhas potencialidades. Esta visão de mundo, apesar de grega, pode nos ajudar na compreensão das fortes palavras dos textos de Tiago 5, 1-6 e Mc 9, 38-48. Nós criamos um inferno a nossa volta a partir do momento que impedimos a realização de nossas potencialidades e a realização das potencialidades dos outros. Nós fazemos isso limitando a dinâmica entre a forma e a matéria. Um dono de uma usina de cana que vive uma vida privilegiada, mas possui trabalhadores que não possuem condições dignas para sua vida, limita a realização destes como também a de seus dependentes. Um marido dominador e ciumento pode limitar a realização de sua esposa condicionando-a somente aos deveres do lar. Os pais podem, por diversas estratégias, condicionar seu filho a uma determinada profissão impedindo que este realize suas verdadeiras potencialidades. Em diversas situações podemos nos podar como também podemos impedir com que outras pessoas livremente venham a desenvolver na dinâmica da forma e matéria a realização de sua essência. Assim, podemos criar uma existência angustiante e infernal. Mas, não somente no plano existencial podemos construir um inferno, mas também na dimensão da consciência. A consequência mais grave de toda esta imposição ao outro ou exploração do outro é a recompensa no pós-morte de uma consciência plena de que nesta existência contribuímos para nossa infelicidade e a de nossos semelhantes. Se na existência limitada podemos nos arrepender de não ter sido aquilo que poderíamos ser, na ressurreição, ou seja, na vida em completude, o arrependimento é também completo. Isso, é claro, se na existência temos consciência do que podemos ser e fazer. Afinal, muitos deixam de se realizar como pessoas e impedem a realização de outros pela mediocridade e falta de sensibilidade. Porém, nós cristãos temos a lucidez de que ganhamos o dom da vida de Deus e podemos fazer dele algo maravilhoso. Se agimos desta forma estamos contribuindo para eliminar o inferno e para a construção do reino de Deus.