[email protected]
www.djaniragamboa.blogspot.com.br

Conta-se que, certa vez, enquanto passeava com seus discípulos, Jesus, para espanto deles, traçou na areia algumas letras com a ponta do seu cajado. Mal terminara de escrever, um vento forte, enviado por Deus, soprou apagando rapidamente os traços desenhados, como para libertar a palavra Divina da limitação das letras. Assim, ficou dispersa pelo mundo o que deveria ter sido a primeira mensagem escrita por Jesus.
Estavam bem claros os desígnios do Pai: o Filho teria que se comunicar pela palavra falada e não pela escrita.
É possível, que, a partir daquele momento, O Divino Mestre tenha dado aos seus discípulos a missão de encontrar e resgatar as palavras sopradas pelo vento. Aí, estão os Evangelhos, escritos pelos apóstolos, anunciando: Jesus disse e, nunca, Jesus escreveu.
Esta a difícil missão do escritor – um legado com ares de castigo – o de desvendar o mistérios da palavra dando-lhe, no momento exato, o verdadeiro sentido. Há uma inquietude que visita constantemente sua alma, um desassossego, e muitas vezes até desespero por não conseguir saber como e quando lhe chegará a ideia trazendo consigo o verdadeiro sentido da palavra. Quantas vezes pensa estar certo daquilo que realmente deseja dizer, porém os ventos da indecisão, da descrença e do desencanto, sopram apagando, confundindo, deixando um vazio como se o nada fosse o outro lado do ser. O ato de escrever é, sem dúvida, um ato solitário de buscas constantes.
Os que lidam com a insubordinação das letras, com a resistência das ideias, sabem que a palavra falada é mais eficaz do que escrita. Tem um maior alcance.
Aos poetas são concedidos dons especiais e um deles é a intimidade com as dores do mundo.
E preciso, pois, que o escritor, poeta ou não, acredite que as palavras espalhadas pelos ventos de Deus, estão no Universo à espera de serem resgatadas.

Obs: A autora é poetisa, escritora contista, cronista, ensaísta brasileira.

Faz parte da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Recifense de Letras, Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda, Academia Pesqueirense de Letras e Artes , União Brasileira de Escritores – UBE – Seção Pernambuco
Autora dos livros: Em ponto morto (1980); A magia da serra (1996); Maldição do serviço doméstico e outras maldições (1998); A grande saga audaliana (1998); Olho do girassol (1999); Reescrevendo contos de fadas (2001); Memórias do vento (2003); Pecados de areia (2005); Deixe de ser besta (2006); A morte cega (2009). Saudade presa (2014)
Recebeu vários prêmios, entre os quais:

Prêmio Gervasio Fioravanti, da Academia Pernambucana de Letras, 1979
Prêmio Leda Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, 1981
Menção honrosa da Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1990
Prêmio Antônio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras, 1998 e 1999 
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2000
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2010
Prêmio Edmir Domingues da Academia Pernambucana de Letras, 2014

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]