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Em  minha sala de trabalho, no Colégio Salesiano do Recife, conservo uma curiosidade que me apraz mostrar aos visitantes, sobretudo jovens alunos: é uma bênção do Papa João Paulo I. Foi por ocasião de minhas bodas de ouro sacerdotais, que na verdade ocorreram no ano seguinte, mas por feliz engano dos Superiores salesianos de Roma, foi pedida ao Papa naquele ano de 1978. Pela brevidade de seu pontificado, creio que não haverá muitas dessas bênçãos no mundo.

Poucos foram os dias de seu pontificado: apenas 33. Em 26 de agosto de 1978, após brevíssimo conclave de 2 dias e 4 votações, era eleito Papa o patriarca de  Veneza, Albino Luciani, que tomou o insólito nome duplo João Paulo,o primeiro nome duplo da bimilenar história papal. A razão desse duplo nome encontra-se no pedido que ele fez, em  seu primeiro discurso programático,  de orações e ajudas para continuar a obra de seus dois predecessores, João XXIII e Paulo VI.

Foram muitos seus títulos: o Papa do sorriso, o Papa humilde, o Papa catequista, o Papa pároco do mundo, o Sorriso de Deus. Mas ele se denominou o “humilde e último servo dos servos de Deus” em sua primeira e única mensagem em mundovisão: o discurso Urbi et Orbi, “à Cidade e ao Mundo”, no jargão vaticano. Nele,  João Paulo I declarava que tinha ainda o “espírito inquieto pelo pensamento do tremendo ministério que o aguardava, mas seguro da presença confortadora e predominante do Filho de Deus na Igreja de mãos dadas com Cristo, apoiando-se nele como autor da salvação e princípio de unidade e de paz.” Ele se dirigia a todos os homens, vendo neles “unicamente amigos e irmãos sedentos de vida e de amor”. Esse discurso desenvolve-se em seis pontos programáticos, onde fé e cultura encontram feliz síntese. Usando ainda o plural majestático, que seu sucessor aboliu, ele repete seis vezes um vigoroso “Queremos”: executar a herança do Vaticano II; conservar a grande disciplina da Igreja na vida dos sacerdotes e dos fiéis, promovendo a revisão do Código de Direito Canônico; recordar a toda a Igreja que seu primeiro dever é o da evangelização; continuar o esforço ecumênico; prosseguir com paciência o diálogo que seu predecessor Paulo VI indicou na encíclica Ecclesiam Suam; e enfim, favorecer a defesa e o incremento da paz no mundo.

Sua atividade pastoral é impressionante nos poucos dias de seu pontificado.

João Paulo I não escreveu nenhuma Carta Encíclica nem Exortação apostólica, mas deixou quatro breves alocuções, das que de costume são proferidas pelo Papa na hora do Angelus, aos domingos, na praça de São Pedro. A última foi a de 24 de setembro, na qual ele narra o martírio de 16 carmelitas da França em 1794. A Superiora das Irmãs decapitadas, antes da execução, exclamou: “O amor sempre vencerá, o amor tudo pode”. E João Paulo I comentou: “Eis a palavra exata: não é a violência que tudo pode, é o amor que pode tudo”. Foram suas últimas palavras ao mundo. Na manhã de 28 de setembro daquele mesmo ano, 1978, foi encontrado morto em seu quarto de dormir. O médico Dr. Renato Buzzonetti atestou  o óbito, ocorrido presumivelmente pelas 23 horas do dia anterior e causado por enfarte agudo do miocárdio.(30.10.12)

Obs: O autor é arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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