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1 – Domingo da MISSÃO DE TODOS E TODAS
Lc 10,1-12.17-20

 Os “doze” foram os primeiros convocados. “Setenta e dois” são todas e todos os demais. Ninguém fica de fora do chamado e do envio de Jesus.

Há muito o que se fazer e pouca gente disposta a pôr as mãos à obra. Precisa sempre pedir ao “Dono do roçado” que mande mais gente para dar conta de abrir caminho nos corações para o Cristo, fazendo todo o bem que possa, sobretudo, a quem mais precisar, anunciando por todo canto a Boa Nova do Reino! Pelo caminho, tudo será possível, inclusive, que nos rejeitem e persigam, como também o sucesso, o bom êxito de nossas ações. A rigor, tudo já está previsto.

Mas o que importa é a fidelidade à missão e a certeza de que, quem a ela se entrega, pela paixão do Reino, na força do sonho de um Mundo Novo, de justiça e amor, “assim na terra como no céu”, já tem seu nome gravado no coração do Pai.

É essa a certeza maior que anima nosso canto nesta celebração de hoje?…

Enquanto muita gente, quem sabe, a maioria, vive a rotina do dia-a-dia sem ligar muito para o que rola no mundo, há quem esteja bem ligado em tudo, interessado em se aproveitar da inconsciência ou da incompetência dos outros, para proveito próprio, crescendo às custas da leseira dos ignorantes, iludidos ou irresponsáveis. É assim que muitas das pessoas que nos representam no Congresso Nacional e nos Governos Federal, Estadual e Municipal cuidam dos seus interesses egoístas, às custas da miséria de muita gente… Por outro lado, como é bonito ver a luta dos Povos Originários, chamados indígenas, dos Quilombolas, do MST, do Movimento dos Sem Teto, das Centrais Sindicais unidas, do Professorado e dos Estudantes! Como foi importante a Greve Geral de 14 de junho! Estaremos cumprindo a Missão que Jesus nos confia se deixarmos nosso Sistema de Previdência e Seguridade Social ser des-truído, e uma legião de trabalhadores e trabalhadoras, de gente pobre, inválida e idosa, hoje e, mais ainda, amanhã, entregue ao abandono e à miséria?… VER, JULGAR e AGIR, a hora é agora!

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Boaventura (sociólogo português): a intrincada geopolítica da Lava Jato

<<Glenn é um grande jornalista. Deveria lhe ser concedido (…) o Prêmio Nobel da Paz. Tem que se cuidar porque, obviamente, está na mira das milícias e de todos aqueles que não querem que a verdade seja apurada. Os dados já não estão no Brasil apenas, os dados estão a salvo. Portanto se matarem o Glenn, não matam os dados – e teria um custo político muito grande. (…). Ele é um homem muito experiente e, desde que tornou públicos os dados de Snowden, sabe bem como funciona o sistema, portanto também sabe defender-se. (…) Ele está a ter muito cuidado na estratégia de publicação. Agora, o dano principal está feito: revelou-se internacionalmente que tudo foi uma fraude com todo o apoio dos Estados Unidos, de onde vieram os dados da Lava-Jato. Todo o apoio foi para que isso tivesse o efeito político de eleger Bolsonaro. Ninguém mais na direita tinha garantido que o Pré-sal seria privatizado – que era o grande objetivo dos EUA –, que a Embraer fosse vendida e que a Previdência fosse privatizada. Os objetivos dos EUA são os objetivos do capital financeiro internacional e estes só eram satisfeitos por alguém que mostrasse toda a disponibilidade, como Bolsonaro. Estamos num momento de grande rivalidade entre os EUA e a China. Os EUA querem alinhamentos totais para quem está próximo; e queria o Brasil totalmente alinhado. O impeachment da presidente Dilma foi parte deste processo. A condenação do presidente Lula, também. Portanto, agora vamos ver se as forças democráticas deste país finalmente se levantam diante deste enorme atropelo da justiça que está a fazer da democracia uma ditadura. Penso que Moro está apoiado pelos militares e isto talvez seja a sua segurança – já que não tem prestígio internacional nenhum. Este homem foi duas vezes, em dois meses, a Portugal vender a delação premiada. Não foi aplaudido como queria e foi criticado pela nossa ministra da Justiça e pela ex-procuradora-geral. Portanto, falhou nos seus objetivos internacionais. Não há ninguém hoje no sistema judiciário internacional que ponha Moro como exemplo; ele é o contra-exemplo do que não se deve fazer>>

2 – Domingo do Samaritano
Lucas 10,25-37

 Como escutar esta passagem do Evangelho, hoje, após os fatos acontecidos neste país, na semana que passou: o fim da existência terrena do jornalista Paulo H. Amorim e do sociólogo Francisco Oliveira, a votação da “Reforma” da Previdência na Câmara?…

De fato, na historinha que Jesus contou para um biblista “daquele tempo”, ele responde a duas perguntas decisivas: “O que fazer para herdar a vida eterna?” e “Quem é o meu próximo?”. Jesus confronta as figuras respeitáveis do “sacerdote” e do “levita”, dois profissionais da ”religião”, homens do “templo”, com um “samaritano”, gente de religião espúria, supostamente, de maus costumes, de quem nada de bom se poderia esperar. Entre os homens de bem, religiosos, provindos de Jerusalém, e aquele herege, vindo da Samaria, a historinha contada por Jesus coloca alguém que morre à míngua à beira da estrada, depois de assaltado e espancado.  Dos três que se deparam com esta cena lamentável, o samaritano, o fulano malvisto e malquisto, é o único que se dispõe a socorrer o coitado e lhe presta toda sorte de auxílio. Jesus conclui, respondendo às duas perguntas do “doutor da Lei”: “Vai e faze a mesma coisa!”… Foi o mesmo que dizer: o caminho da “vida eterna” passa, antes de tudo, pela solidariedade para com quem mais precisa… A religião verdadeira começa pelo amor cuidadoso para com os que estão caídos, à beira da estrada… A Liturgia essencial, a adoração “em espírito e em verdade” (Jo 4,24), é a vida doada pelo bem da Humanidade, por um mundo de justiça e irmandade, onde ninguém seja excluído.

Aqui e agora, urge que cada um, cada uma, de nós, do presbítero que preside esta celebração a todas as pessoas que vão fazer a comunhão, se pergunte: com que sentimentos recebemos a notícia da passagem do jornalista e do sociólogo?… Com a certeza consoladora de que quem serviu à causa da Verdade e do Direito, e foi solidário com a causa dos empobrecidos e excluídos, está com Deus?… De que lado você ficou ao acompanhar a votação da “Reforma” da Previdência: do lado da imensa população que será prejudicada ou do lado dos poderosos que saem beneficiados com a destruição dos direitos dos mais precisados?… Estamos “fazendo a mesma coisa” que Jesus os sugere?…

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965)  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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