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Domingo do DISCÍPULO DE CRISTO
Lucas 9,18-24

Há cristãos e cristãs que são boas pessoas, mas sua religiosidade não passa de uma atitude infantilizante de busca de proteção ou de solução fácil e imediata para os problemas do dia-a-dia… Jesus Cristo, para essas pessoas, é o Deus de sempre, de quem tudo se espera e a nada as compromete…

Mas há quem esteja descobrindo, em seu caminho, um Cristo que fala pessoalmente, que diz coisas sérias, que interpela as pessoas e exige delas, além da confiança, uma atitude, um compromisso pessoal com Ele e com a causa do Reino de Deus, seu Pai.

É isso o que Jesus quer dizer quando fala da “cruz“ que a gente tem que tomar para segui-lo…

É isso o que a gente pede a Papai do Céu quando nos dirigimos ao Pai com as palavras que Jesus nos ensinou…

É isso o que a gente pede a Jesus quando rezamos a “Oração de São Francisco”…

É a isso que a gente se compromete quando faz a comunhão, no seu Corpo e no seu Sangue, ao comer a Ceia do Senhor.

E foi essa a “santidade” que fez os santos e santas serem o que são.

 Como viver, hoje, aqui e agora, a santidade da CRUZ, do dar a vida pela causa da Verdade, da Justiça e do Amor?

Como servir à causa da VERDADE, num tempo em que a mentira virou mercadoria, e existem “fábricas de fakenews”, forjadas, vendidas, compradas e detonadas, com o fim de desmoralizar pessoas, destruir empresas e instituições?…

Como se comprometer com a causa da JUSTIÇA no país mais desigual do mundo?…

Como viver a anunciar o AMOR num contexto cultural eivado de preconceitos de todo tipo, numa conjuntura de violência e ódio “institucionalizados” e “naturalizados”?…

Não será isso o que JESUS nos quer dizer, hoje, quando nos convida a segui-lo e a tomar a CRUZ?…  E agora, José?… E agora, Maria?…

……..

O prazer espiritual de ser <<povo>>

  1. O próprio Jesus é o modelo desta opção evangelizadora que nos introduz no coração do povo. Como nos faz bem vê-Lo perto de todos! Se falava com alguém, fitava os seus olhos com uma profunda solicitude cheia de amor: «Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele» (Mc10, 21). Vemo-Lo disponível ao encontro, quando manda aproximar-se o cego do caminho (cf. Mc10, 46-52) e quando come e bebe com os pecadores (cf. Mc 2, 16), sem Se importar que O chamem de glutão e beberrão (cf. Mt 11, 19). Vemo-Lo disponível, quando deixa uma prostituta ungir-Lhe os pés (cf. Lc 7, 36-50) ou quando recebe, de noite, Nicodemos (cf. Jo 3, 1-15). A entrega de Jesus na cruz é apenas o culminar deste estilo que marcou toda a sua vida. Fascinados por este modelo, queremos inserir-nos a fundo na sociedade, partilhamos a vida com todos, ouvimos as suas preocupações, colaboramos material e espiritualmente nas suas necessidades, alegramo-nos com os que estão alegres, choramos com os que choram e comprometemo-nos na construção de um mundo novo, lado a lado com os outros. Mas não como uma obrigação, nem como um peso que nos desgasta, mas como uma opção pessoal que nos enche de alegria e nos dá uma identidade.
    Papa Francisco em “A Alegria do Evangelho”

 2 – Nascimento de S. JOÃO BATISTA
Lucas 1,57-66.80

Jesus disse, um dia, que “entre todos os nascidos de mulher não há ninguém maior do que João” (Lc 7,28). Dá para entender, então, por que as palavras de Isaías, 49,1-6, que os cristãos sempre leram pensando em Jesus, na festa de hoje, a tradição das Igrejas as aplique a João Batista:

“… quero fazer de ti uma luz para as nações, para que a minha salvação chegue até os confins do mundo”.

E pensar que as palavras do profeta aplicadas seja a Jesus, seja a João, têm a ver igualmente com a gente, com cada um, com cada uma de nós!…

O clarão e o calor de nossas fogueiras só tem sentido, se cada um, cada uma de nós, individualmente e em comunidade, for esta presença de luz e calor, em meio à escuridão e à frieza de tantos ambientes que frequentamos.

E toda a alegria desta festa, quem sabe, teria muito mais sentido e seria muito maior, se, efetivamente, cristãos e cristãs de todas as Igrejas dessem conta, hoje, da sua missão profética.

 Triste e preocupante é perceber que a indústria da mentira tenha conseguido embaçar os olhos de tanta gente, para esconder os malfeitos dos poderosos que governam este país. De fato, e com apoio até de pastores e padres, muita gente, não somente elegeu como também continua apoiando quem hoje no poder 

– vende as empresas e as riquezas do nosso país a estrangeiros;

– aprova as políticas do VENENO,   facilitando ainda mais o uso de agrotóxicos pelos barões do agronegócio…

– facilita o uso de armas pelos donos de terra pra matarem nossos indígenas e sem-terra, e a matança de nossa juventude pobre e preta pelas polícias…

–  destrói as políticas sociais de Educação, Saúde e Seguridade Social, relegando ao abandono legiões de pobres do campo e das periferias urbanas…

– e faz vista grossa aos 13 milhões de desempregados, a tristeza deste país!

Como dar conta, hoje da Missão de JOÃO BATISTA?

3- 29 de junho: Festa de São Pedro do Povo de Deus
Sl 139 + At 12,11

 Por que apenas São Pedro?…

Porque, de fato, é de quem o povo se lembra, todo ano, por sinal, no dia mesmo que a tradição reconhece como o dia do seu martírio, 29 de junho, “dia de São Pedro!”. Por razões práticas, pelo fato de o dia 29 de junho não ser mais feriado, quando esta data não cai no domingo, no Brasil, se adia a celebração litúrgica para o domingo após esse dia.

São Paulo, em que pese sua importância para a vida das Comunidades cristãs e para toda a Igreja, entre nós, não caiu no gosto popular. E como já tem uma grande cidade, a maior do país, com seu nome, comemorando seu aniversário justamente no dia em que a Igreja comemora, liturgicamente, a “conversão de São Paulo”, parece pastoralmente mais conveniente, celebrar este grande santo nesta data. Semelhantemente ao que ocorre, no Brasil, com o dia 29 de junho, quando o dia 25 de janeiro não cair no domingo, poderia celebrar-se a sua festa no domingo seguinte. E haveria o “Domingo de São Pedro” e o “Domingo de São Paulo”.

Mas vale a pergunta: por que apenas São Pedro caiu no gosto do povo?…

É possível que o fato de ser de Paulo gente da elite, tanto religiosa, quanto civil (haja visto que possuía cidadania romana), seu jeito “fariseu”, de grande rigor moral, e seu nível intelectual, o tenham tornado menos simpático ao povão.

Pedro, ao invés, ora “faroleiro”, como todo pescador, ora fraco, como todo pecador, parece mais próximo da experiência existencial e cotidiana do povo, cativando assim, mais naturalmente, sua simpatia.

É interessante perceber como Jesus, em sua divina grandeza e coerência, tanto sabe premiar este pobre pescador com a distinção de considerá-lo o “primeiro servidor” entre os Apóstolos, pela espontaneidade e entusiasmo da sua fé: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!” (Evangelho de Mateus 16,16), quanto sabe misericordiosamente perdoá-lo nos seus momentos de fraqueza, sem por isso, diminuir a sua consideração ou retirar-lhe a incumbência. Vale a pena recordar a cena da “negação”, tal como retratada no Evangelho de Lucas:

<<Eles prenderam e levaram Jesus à casa do sumo sacerdote. Pedro seguia Jesus de longe. Acendram uma fogueira no meio do pátio, e sentaram-se ao redor. Ora, uma criada viu Pedro sentado perto do fogo. Encarou-o bem, e disse: “Este aqui também estava com Jesus!” Mas Pedro negou:” Mulher, eu nem o conheço.” Pouco depois, outro viu Pedro e disse: “Você também é um deles.” Mas Pedro respondeu: “Homem, não sou, não.” Passou mais ou menos uma hora, e outro insistia: “De fato este aqui também estava com Jesus, porque é galileu.” Mas Pedro respondeu: “Homem, não sei do que você está falando.” Nesse momento, enquanto Pedro ainda falava, um galo cantou. Então o Senhor se voltou, e olhou para Pedro. E Pedro se lembrou do que o Senhor lhe havia dito: “Hoje, antes que o galo cante, você me negará três vezes.” Então Pedro saiu para fora e chorou amargamente.>> (Evangelho de Lucas 22,34-61).

A este mesmo Pedro, após a sua ressurreição, Jesus perguntará, coincidentemente, por três vezes: “Simão, filho de João, você me ama?”… E esse diálogo, exigente e insistente, assim foi descrito por João, no quarto Evangelho:

<<Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo” Jesus disse: “Cuide dos meus cordeiros.” Jesus perguntou de novo a Pedro: “Simão, filho de João, você me ama?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo” Jesus disse: “Tome conta das minhas ovelhas.” Pela terceira vez Jesus perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, você me ama?” Então Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Disse a Jesus: “Senhor, tu conheces tudo, e sabes que eu te amo.” Jesus disse: “Cuide das minhas ovelhas.”>> (Evangelho de João 21,15-17).

E o discípulo, que por três vezes negara seu Mestre, precisou professar por três vezes seu amor ao mesmo, para receber dele, por três vezes, igualmente, a missão de cuidar do rebanho, até o ponto de dar a vida pelo mesmo, como fizera seu Mestre (cf Evangelho de João 21,18-19).

Mas o mais interessante vai ser encontrar o próprio Pedro, mais tarde, em pleno exercício do seu ministério, escrevendo para pessoas recém-batizadas (pasmem!) essas solenes e grandiosas palavras:

<<Aproximem-se do Senhor, a pedra rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. Do mesmo modo, vocês também, como pedras vivas, vão entrando na construção do templo espiritual, e formando um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por meio de Jesus Cristo. (… …) Vocês, porém, são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para proclamar as obras maravilhosas daquele que chamou vocês das trevas para a sua luz maravilhosa. Vocês que antes não eram povo, agora são povo de Deus (…).>> (1ª. Carta de Pedro 2,4-10).

Que maravilha, escutar este pescador de peixes feito “pescador de gente” (cf Evangelho de Mateus 4,19), considerado por Jesus como “pedra” de base da sua Igreja (cf o Evangelho de hoje: Mateus 16,18), humildemente reconhecer, primeiro que a “pedra fundamental” mesma da Igreja é Jesus. Em seguida, olhar para todos e todas nós com essa compreensão grandiosa: vocês todos e todas são pessoas chamadas a fazer parte da construção do “Templo” verdadeiro de Deus… Vocês são as “pedras vivas” deste Templo!… Mais: vocês são chamadas e chamados a exercer um “sacerdócio santo”, a “oferecer sacrifícios espirituais que Deus aceita por meio de Jesus Cristo”… E como “raça eleita, sacerdócio régio, nação santa”, como “Povo de Deus”, vocês são as pessoas destinadas a “proclamar as obras maravilhosas” de Deus, ou seja, vocês todos e todas são as testemunhas do Evangelho.

Pelo visto, a Igreja confiada por Jesus aos cuidados de Pedro nada tem a ver com uma Igreja clerical, onde cordeiros e ovelhas ficam o tempo todo dependendo da iniciativa e das ordens  dos pastores… Pelo visto, a Igreja confiada a Pedro por Jesus é coisa de todos e todas nós: quando nos encontramos reunidos e reunidas em nome de Jesus, “ele está no meio de nós” (cf Evangelho de Mateus 18,20), somos com ele e nele o Templo vivo de Deus… Todos e todas somos sacerdotes e sacerdotisas, a ofertar o que realmente agrada a Deus, nossas vidas, em Jesus, com Jesus e por Jesus a Deus (cf Carta de Paulo aos Romanos 12,1-2), Eis o que celebramos no “ofertório”, cada vez que fazemos a Ceia do Senhor… Todos e todas, testemunhas assumidas da Palavra que liberta e salva a humanidade…

Eis a Igreja, NÓS! Que, já no Sermão da Montanha, somos gente destinada a ser “sal”, que fertiliza, dá sabor e conserva… “luz”, que resplende pelas “obras”, as quais levam as pessoas a “louvar o Pai”… “fermento”, que transforma toda a massa (cf Mt 5,14-16; 13,33).

Imaginem quando, pelo menos, boa parte das pessoas batizadas se conscientizarem disso e o assumirem!

Imaginem o que seria o Brasil, “o maior país católico do mundo”, se todas as pessoas que, desde o início da colonização, 519 anos atrás, tivessem tido essa consciência, essa postura, esse desempenho profético, sacerdotal e régio-pastoral!

São Pedro, pescador e pastor, servidor de um povo com esse perfil, rogue por nós!
Reginaldo Veloso
Presbítero leigo das CEBs

 Enquanto nossa vibração maior consistir em “torcer pelo Brasil”, isto é pela seleção brasileira de futebol, de quatro em quatro anos… enquanto nosso grito mais forte, nosso “brado retumbante” for apenas “gô-o-o-o-o-ol!”…, nunca veremos, efetivamente, essa nossa “Pátria” ser a “Mãe Gentil” que gostaríamos que fosse para todos os seus filhos e filhas!

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965)  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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