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O conceito sobre o que é a verdade sempre inquietou os filósofos. Ela é relativa? É absoluta? É absoluta, mas enxergamos de forma relativa? Vários livros foram escritos sobre esse complexo assunto. Em nosso cotidiano, mesmo sem perceber, estamos a todo tempo nos fazendo essa pergunta: É verdade? O filósofo alemão FriedrichNietzsche, preocupado com essa questão, chegou a escrever uma frase sobre o que ele considerava uma pessoa de mente elevada: “A verdadeira questão é: Quantas verdades você consegue suportar?”Algumas verdades são difíceis de aceitarmos. Por isso que nossa mente trabalha para nos enganar de forma inconsciente. É uma forma de defesa para não nos frustrarmos, não sofrermos. Não suportamos saber sobre algumas “realidades” que são muito dolorosas para nossa pobre alma. É melhor não acreditar. Será que é mesmo? Creio que não, pois nosso corpo não sabe levar desaforo para casa. De alguma forma o corpo percebe e se manifesta através de neuroses, somatizações, angústias, etc.

Muitos homens vivem reclamando de suas parceiras que sempre dizem estarem cansadas para fazerem sexo com eles. Mas se as esposas receberem um convite para irem ao shopping a qualquer hora do dia, tiram de dentro delas uma força e disposição inexplicável para andarem quilômetros dentro de um lugar lotado e barulhento. Por outro lado, soube de um homem que vive fazendo hora extra na empresa onde trabalha para evitar chegar em casa e encontrar a esposa acordada e ter que fazer sexo com ela todos os dias. Ele não aguenta tanta libido em uma mulher só. Dizem também que os jovens de hoje não têm muita paciência para realizarem tarefas específicas durante muito tempo. Ficam entediados. Mas nos impressionamos ao vermos tamanho investimento físico e mental desses jovens ao ficarem em uma fila quilométrica seis horas expostos ao sol intenso para comprar seus ingressos e ver uma banda internacional quem são muito fãs. Temos uma disposição interna para fazermos algumas escolhas e para outras, não. Explicar o porquê dessas escolhas é um pouco difícil.

Somos frágeis e carentes, o que muda de uma pessoa para a outra é apenas o grau dessa fragilidade e carência. Mentimos por medo de como o outro reagirá a nossa verdade verbalizada. É uma medida que de certa forma serve para manter a “ordem social”. A pessoa sincera demais não tem muitos amigos ao seu redor.

Como já havia escrito em outros textos, quando temos a coragem de fazer uma análise pessoal, começamos a lidar com alguns conteúdos nossos que não sabíamos que tínhamos e que podem doer bastante. Mas por outro lado, podemos não repetir os mesmos erros, pois descobrimos a verdade sobre nossas mentiras. É uma libertação e também pode, aos poucos, gerar mais saúde mental, liberdade e até prazer.

Sonho com o dia em que possamos falar verdades necessárias e urgentes para os outros e que consigamos receber de forma menos agressiva essas verdades quando direcionadas a nós também. Um dia em que os homens poderão entender que, para algumas mulheres, o shopping pode ser mais prazeroso que o ato sexual com o parceiro e que as mulheres poderão explicar essa questão aos cônjuges sem medo. Que você consiga dizer para sua parceira que sua libido é menor que a dela e que terão que conversar sobre esse assunto passando por cima do seu machismo. Que consigamos entender que os nossos jovens não são desatentos em todo momento. Existem tarefas que eles conseguem ter uma grau de concentração maior que vários monges tibetanos juntos.

Queria deixar claro uma última coisa. A verdade tem que ser dita com amor e se possível a sós com a pessoa que terá que ouvir. A verdade em si mesma já pode ser dolorida. Contraditoriamente, se você gritar, talvez não seja ouvido.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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