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Há tempos procrastinava o inédito. Até que se deu a experiência da sétima arte, muito movido pelas leituras de Pierre Bourdieu e seu conceito de capital cultural. Sim. Queria experimentar o artístico cinematográfico que conhecia somente pela historiografia nostálgica do Olímpia, Acácia, Cinerama e pela fala do antigo mestre de literatura comparada, que narrava enfático a grandiosidade dos majestosos cinemas do Rio de Janeiro.
Preparou-se o momento: fez pesquisa na internet do filme em cartaz. Selecionou a melhor poltrona que pudesse lhe dar a melhor imersão de som (isso, a pós longa pesquisa). E por último comprou ingresso por aplicativo. Enfim, pôs-se em rito para aquela que seria sua primeira experiência idealizando, por todo aquele dia, o grande momento.
Chegou bem adiantado. Junto a entrada da sessão foi logo confirmar a hora que deveria estar ali. Pois, como fiel cumpridor de horário não queria se atrasar um segundo. Assim, lá estava pontualmente para o início do filme. Mas antes comprou pipoca e refrigerante. Queria ter uma estreia completa. E por falar em pipoca… fora a pipoca mais cara que já comeu na vida.
Na escuridão da sala patetou até achar o assento. Não sabia que podia utilizar a lanterna do celular. Achava que era sumariamente proibido o uso do aparelho. Utilizando-o, não tardiamente, encontrou a poltrona que ruminava constantemente: C7… C7…
Sentado assistiu atentamente até os comerciais e trailers. Os avisos para o não uso do celular na sala observou atentamente e seguiu à risca. Filme iniciado…
A sala, não suntuosa, divergia da imagem fabricada no pensamento. Ao lado, o barulho de quem atendia ligação como se estivesse na sala da própria casa. Por trás, um homem dando spoilers constantemente. Mais ao fundo, musiquinhas infantis tentavam competir com a qualidade sonora do filme. E um pouco mais a frente, crianças assistindo outros filmes nos celulares dos pais (e sem falar das crianças que corriam livremente como se estivessem na praça). Pensou consigo mesmo: é assim que funciona? Pagamos para passar por isso…?
Contudo, vivenciou a experiencia única de quem se entrega totalmente a realidade do filme, não ele é claro, uma vez que lá pelo clímax do enredo, quando a força do bem recupera as energias e vence a batalha contra o mal, ouviu estridentes aplausos e gritos de alegria. Foi como um gol de placa num Maracanã lotado. Talvez fossem “marvenautas”, que se entregam ao misto de sentimentos das personagens. E não menos importante para ele, é claro, foi a experiencia de assistir ao filme, compenetradamente, sem a terrível mania de a cada momento sentir a necessidade de se atualizar nas atualizações das redes socias. E por quase esquecimento, ainda como experiência gratificante, foi o fato de não ter dormido durante a trama (algo muito raríssimo rsrsrs).
E sobre o filme em si? O filme foi bom, embora sendo um filme de super-herói.
Filme bom. Mas de super-herói.
Obs: O autor é poeta e fotógrafo amador. Trabalha na UFOPA / campus de Óbidos.
Imagem enviada pelo autor