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“Quanto à língua, eu estou nela um tanto adiante, ainda que é muito pouco para o que  soubera, se me não ocupara em ensinar gramática. Todavia tenho toda a maneira dela por arte” – escrevia Padre Anchieta aos seus irmãos jesuítas de Coimbra em 1555.  No ano seguinte, o Pe. Manoel da Nóbrega voltava para a Bahia  e já levava consigo A Arte da Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil, escrita por Anchieta,  e  impressa em Coimbra em 1595. Foi ele o primeiro missionário do Brasil a falar a língua dos nativos. Já o Pe. Nóbrega, vindo para o Brasil em 1549, achava que a língua dos indígenas  era incapaz de exprimir os conceitos necessários para a evangelização. Escrevia para a Europa: “São eles tão brutos que têm mui poucos vocábulos para lhes poder bem declarar nossa fé.”

 Anchieta nasceu no dia 19 de março de 1534, dia de S. José – daí seu nome – em Laguna, nas ilhas Canárias, possessão espanhola. Quando estudava filosofia em Coimbra, entrou na Companhia de Jesus, sendo aparentado com o fundador dos jesuítas, Inácio de Loiola. Veio para o Brasil, ainda seminarista, em 1553. Ensinou latim na escola de Piratininga, fundada por ele e Pe. Nóbrega no dia 25 de janeiro de 1554, festa da conversão de São Paulo, data considerada como a da fundação da cidade de S. Paulo.

Com o mesmo Nóbrega, ficou refém em Iperoig  para conseguir a pacificação entre índios  e  portugueses. Conta-se que, prisioneiro dos índios, enquanto Nóbrega voltava a Piratininga para negociar com os portugueses, ao cair da noite,  os caciques levaram suas filhas para que escolhesse  alguma para dormir com ele. Foi nesta ocasião que escreveu em latim, nas areias da praia, em agradecimento a N. Senhora, seu “Poema à Virgem”, que ele memorizava cada dia, para passá-lo depois para o papel em São Vicente.

 Foi ordenado sacerdote na Bahia em l566. Foi provincial das casas da Companhia de Jesus em São Vicente, S. Paulo e Espírito Santo. Deixou vários escritos em língua tupi, português, castelhano e latim. Na província do Espírito Santo, fundou a vila de Iriritiba (hoje, Anchieta)  onde morreu aos 63 anos, em 9 de junho de 1507.

 O processo de canonização começou em 1617 e só em 22 de junho de 1980, o Papa João Paulo II o declarou bem-aventurado. Finalmente, o Papa jesuíta Francisco fez a chamada  canonização equivalente, por um decreto, assinado no dia 3 de abril deste ano, em audiência privada com o Cardeal Amato, que lhe apresentou formalmente o processo de canonização para receber a aprovação papal. No próximo 24 de abril, na igreja chamada do  Gesú  em Roma, dedicada a S. Inácio de Loiola, o Papa Francisco celebrará solene liturgia de ação de graças  pela canonização do Apóstolo do Brasil, para a qual já estão convidados todos os bispos brasileiros.

Concluo com esses versos de seu maravilhoso Poema à Virgem:

 “Que o Espírito de amor com seu fogo celeste / caldeou e, pura assim, toda ouro te fizeste! / Cresceu-me a reta fé desde a mais tenra idade, / por dádiva do Filho e maternal bondade!”

Obs: O autor é arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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