Lourença Lou 1 de junho de 2019

fui mãe
sem ter sido filha

guardava meus irmãos
o gato que lambia as lágrimas da caçula
e a galinha que nos dava o café da manhã
dentro do meu abraço de menina

muitas vidas depois
transpirava amor em cada dor de parto
amamentava
com os bicos do peito rachados
acalentava as madrugadas
sozinha
a cantarolar jazz ou chico buarque
às vezes beatles emendado ao choro
e a dançar pela varanda estrelada

nunca ouvi canções de ninar

em noites de cólicas
calçava a alma
com meias de funcho ou hortelã
deitava sobre ela o menino
adoçava as histórias que vivera
e medindo com os passos as tábuas do assoalho
esperava seu sono chegar

não conhecia as pérolas infantis

hoje
após tanto chão
aprendi que aconchego
não importa quem dá
importa que se dê

mãe é bem mais que um poema de maio.

Obs: Imagem enviada pela autora – Arte: Honoré Daumier – 1848

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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