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Salutar espanto e positiva admiração causou a carta que Papa Francisco escreveu ao jornalista italiano Eugênio Scalfari, em resposta a dois artigos, publicados no jornal La Repubblica de 7 de julho e 7 de agosto.

De início, o Papa Francisco agradece à atenção que o jornalista deu à encíclica Lumen Fidei, que o pontífice declara que “meu amado Predecessor concebeu e em grande parte redigiu e que eu herdei com gratidão”. E acentua que a encíclica é dirigida não só para confirmar na fé os que creem em Jesus Cristo, mas também a suscitar um diálogo sincero com aqueles que, como Scalfari “se define como um não-crente há muitos anos interessado e fascinado pela pregação de Jesus de Nazaré.”

Pela estreiteza de espaço, vou limitar-me às manchetes e a um resumo da resposta que o Santo Padre deu às três perguntas do jornalista. Destacava o jornal italiano em sua edição de 11 de agosto: “O Papa: minha carta para quem não crê” – “Francisco responde a Scalfari: Deus perdoa a quem segue a própria consciência” –  “Aos não-crentes: se obedecerdes à voz da consciência, tereis o perdão de Deus” –“Também para quem tem fé, a verdade não é absoluta; nós não a possuímos, é ela que nos abraça” – “Os irmãos judeus conservaram sua fé em Deus e disso, nunca lhes seremos suficientemente gratos, como Igreja e também como humanidade”.

Respondeu o Papa Francisco: “Pareceu-me que sua preocupação maior é conhecer a atitude da Igreja em relação aos que não condividem sua fé em Jesus. O senhor me pergunta se o Deus dos cristãos perdoa a quem não crê e nem busca a fé. Dado o fundamental que a misericórdia de Deus não tem limites, a questão para quem não crê está no obedecer à própria consciência. O pecado, seja para os incrédulos como para os crentes, está em pôr-se contra a sua consciência. Outra indagação do senhor é que admitir que não existe nada absoluto, nem uma verdade absoluta, seja isso um horror ou um pecado. Segundo a fé cristã, a verdade é o amor de Deus por nós em Jesus Cristo. Portanto, a verdade é uma relação! Em seu último artigo, o senhor me pergunta se com o desaparecimento do homem sobre a terra, desaparecerá também o pensamento capaz de pensar Deus. Respondo: Deus é realidade – Jesus no-lo revelou como um Pai de bondade e de misericórdia infinita. Portanto, Ele não depende do nosso pensamento. Pela fé cristã, este mundo, como o conhecemos, está fadado a desaparecer. Mas o homem não terminará de existir, como também o universo criado com ele. Não sabemos como. A Sagrada Escritura nos fala de “novos céus e nova terra!” e que Deus será tudo em todos.”

Termina o bispo de Roma: “Caro Dr. Scalfari, concluo assim estas minhas reflexões, provocadas pelo que me escreveu. Receba-as como a tentativa de uma resposta provisória, mas  sincera e confiante. Convido-o a fazermos juntos um trecho do caminho. A Igreja, creia-me, não obstante todos os erros e pecados que possa ter cometido, não tem outro sentido e outro fim, a não ser viver e testemunhar Jesus. Ele foi enviado pelo Pai – Abbá – “a dar a boa nova aos pobres, a proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e proclamar o ano de graça do Senhor (Lc 4, 18s)”.

 Notável a conclusão da carta publicada no jornal:

 “Com fraterna proximidade, Francisco.”

Foi assim a primeira carta na história que um Papa escreveu para um jornal leigo, ainda mais tido como “de esquerda”… (19.04.13)

Obs: O autor é arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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