No ambiente em que se situava, o escrivão dava conta do serviço, desde a distribuição aos ulteriores termos do feito, dentro do pequeno o número de processos. Não se registrava nada com atraso, levando em conta o meu tempo de juiz de direito da comarca. De registro, dentro do atípico, a mistura do escrivão com o compadre, e, então, a intimação dirigida começava a indagar da saúde da comadre, para depois ingressar na parte do escrivão, e assim mesmo, com um esclarecimento a mais: é o feito daquela doida, intimação cuja cópia ficava nos autos.
De problema comigo, só um. Já no final da minha passagem pela comarca, nas inspeções que fazia mensalmente, no cotejo dos feitos em andamento, me deparei com um processo de inventário e partilha que me deixou boquiaberto ao ler a intimação. O escrivão transcrevia meu despacho, e, no final, observava que eu, ou seja, Sua Excelência o Meritíssimo Juiz, não tinha observado que, com a inicial, a parte já tinha trazido cópia das declarações. Assim, só precisava prestar o termo de compromisso.
Pedi que me fizesse conclusão do feito, e, calmamente, despachei no sentido de que, como o sapateiro, que não deve ir além das alpercatas, o escrivão só fosse até onde o juiz mandasse, e, para mostrar que não sabia normas de processo, porque, se as dominasse, seria de seu conhecimento a diferença entre arrolamento e inventário, e, como, no caso, era inventário, havia necessidade de se prestar o compromisso. Renovasse, então, a intimação, transcrevendo os dois despachos.
Não voltou a falar comigo, enviando por portador os feitos para despacho. Ocorreu minha remoção. Após, fui ser juiz federal, e, décadas depois, o escrivão do registro civil esteve em meu gabinete em Aracaju. Perguntei pelo outro: estava aposentado, morando em Aracaju. Pedi-lhe para aparecer, a fim de me visitar. Mandaria buscá-lo e levá-lo de volta. Não apareceu. Soube, depois, de sua morte. Pode ter levado para o caixão a mágoa do meu despacho . 10 de julho de 2018.
Obs: Publicado na Folha de Pernambuco
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras