Mais do que uma época de mudanças, vivemos numa mudança de época. Fator decisivo para estes novos tempos foi o desenvolvimento da ciência e, em seguida, da tecnologia. Vivemos nos tempos da tecnociência. E Galileu Galilei (1564-1642), cuja postura diante dos fenômenos da natureza era marcada pela experimentação e pelo uso da razão, é uma referência importante quando se trata do surgimento das ciências. A partir daí nasceram as chamadas ciências experimentais, berço dos demais ramos científicos. Com Galileu, René Descartes (1596-1650) e Francis Bacon (1561-1626), consolidam-se o método científico e as ciências experimentais. Assim, nos séculos 18 e 19, tivemos a primeira revolução científica acoplada à primeira revolução industrial.
Do século passado para cá, assistimos a tal avanço das ciências que poderíamos delinear a ocorrência de seis grandes revoluções científicas. Na primeira metade do século 20, ocorreu a revolução atômica, que nos legou a medicina nuclear, os radioisótopos (elementos químicos radioativos), a energia nuclear e, de outro lado, a catástrofe e o pesadelo das armas atômicas. Já, em 1953, com a descoberta da dupla hélice do DNA (ácido desoxirribonucleico), inicia-se a revolução molecular, que mudaria radicalmente nosso conhecimento acerca da biologia. Atualmente vivenciamos o apogeu dessa revolução ao lidarmos com a Engenharia Genética, a geneterapia, a clonagem, as células-tronco, a reprodução assistida, a biotecnologia e a biologia sintética.
Ainda no século 20, ocorreram mais duas revoluções: a espacial, na qual o ser humano chegou ao espaço sideral, tendo como evento histórico a descida do homem na Lua, em 1969; e a revolução das comunicações, cujos emblemas são o computador e a internet. O final do século passado e início deste foi marcado pela revolução nanotecnológica – que permite a divisão ou a criação de corpos em minúsculas partículas –, abrindo um novo campo no conhecimento com importantes repercussões na medicina. Surge agora uma sexta revolução, resultante da incorporação das cinco revoluções anteriores.
Preocupação necessária – Inspirado em Van Rensselaer Potter, que criou o neologismo bioethics (bioética), posso dizer que tais revoluções científicas necessitam de um contraponto ético. Assim, poderíamos lidar com a preocupação ética da revolução das comunicações através da chamada “internética ou ciberética”. Para a revolução espacial, teríamos a “sideroética”; para a da nanotecnologia, a “nanoética”; para as ciências neurológicas, em franca expansão, a “neuroética”; e, para a sexta revolução, poderíamos provisoriamente denominá-la de “panepistemoética”, ou melhor, “sophoética” ou “eticosophia”.
Esses neologismos evidenciam a necessidade de ética no bojo específico de cada uma dessas novas áreas do conhecimento científico. Seria uma importante medida de esperança para a humanidade, uma vez que tal preocupação apontaria o caminho dos valores éticos e humanos que deveriam orientar todo o empreendimento científico. Acrescentando ainda a essas revoluções o desafio da globalização econômica, necessitamos também de ética na economia, a fim de ficarmos atentos para não cairmos na tentação cínica de “sabermos o preço de tudo e o valor de nada” – como bem disse o escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900).