Djanira Silva 15 de junho de 2019

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A mulher chegou e falou comigo como se me conhecesse há muito tempo e ainda me chamou de alma gêmea. Antes, eu a vira conversando com uma jovem. Falava tão alto que dava para se ouvir sem esforço. De um só folego contou metade da sua vida e, a outra metade me encarreguei de inventar. Sempre faço isso. Gosto de imaginar a vida das pessoas de acordo com o que penso delas. Esqueço da minha trajetória neste mundo de Deus e, enquanto isto minhas idéias se perdem de mim feito crianças quando saem da escola, desembestadas e sem controle.

Nem sei por que ela falou comigo. Fiquei esperando que me incluísse nas suas conversas, enquanto o cabeleireiro terminava de passar o ferro nos seus cabelos que mais pareciam uma folha de bananeira queimada pelo sol. Aquilo, no  meu entender, não era escova coisa nenhuma. À medida em que passava uma substância visguenta e mal cheirosa, prendia as mechas na chapinha puxando os fios que, no final da operação ficavam tesos feito defunto eletrocutado. Vá lá entender as mulheres. Dizem-se criativas e independentes, no entanto, são escravas da moda, e a ela se curvam chegando às vezes ao ridículo.

Os cabelos, alisados indiscriminadamente, transformam as mulheres num verdadeiro rebanho – tudo igual.

Podem até estarem alforriadas da tirania do machismo, continuam, no entanto, escravas da moda.

Obs: Texto retirado do livro da autora – Doido é quem tem juízo

A autora é poetisa, escritora contista, cronista, ensaísta brasileira.

Faz parte da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Recifense de Letras, Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda, Academia Pesqueirense de Letras e Artes , União Brasileira de Escritores – UBE – Seção Pernambuco
Autora dos livros: Em ponto morto (1980); A magia da serra (1996); Maldição do serviço doméstico e outras maldições (1998); A grande saga audaliana (1998); Olho do girassol (1999); Reescrevendo contos de fadas (2001); Memórias do vento (2003); Pecados de areia (2005); Deixe de ser besta (2006); A morte cega (2009). Saudade presa (2014)
Recebeu vários prêmios, entre os quais:

Prêmio Gervasio Fioravanti, da Academia Pernambucana de Letras, 1979
Prêmio Leda Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, 1981
Menção honrosa da Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1990
Prêmio Antônio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras, 1998 e 1999 
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2000
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2010
Prêmio Edmir Domingues da Academia Pernambucana de Letras, 2014

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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